São Filipe, 05 Ago (Inforpress) – Dezenas de fiéis católicos participaram hoje numa caminhada de madrugada até ao Santuário de Nossa Senhora do Socorro, padroeira dos viajantes, náufragos e emigrantes, localizado a pouco mais de dez quilómetros da cidade de São Filipe.
A romaria, que se realiza anualmente, seguiu o tradicional percurso vicinal que passa pelas imediações do aeródromo de São Filipe.
O primeiro grupo partiu pouco depois das 03:00 da madrugada, chegando ao santuário ao amanhecer e muitos optaram por regressar à cidade logo após a chegada, para evitar o calor intenso típico desta época do ano.
Entre as 04:00 e as 06h00, a maioria dos peregrinos deu início à jornada.
Alguns permaneceram no santuário para participar da missa solene, enquanto outros retornaram a pé pelo mesmo caminho ou pela estrada que atravessa Luzia Nunes e Forno.
Desde o ano passado, o trajecto da peregrinação conta com sinalização e sete paragens com bancos, representando as últimas palavras de Jesus na cruz.
As paragens oferecem momentos de descanso e reflexão para os peregrinos.
O santuário, originalmente uma capela construída no século XVIII pelo Padre Amaro Monteiro Pereira Rebelo, era uma propriedade privada.
Após sua morte, passou por herança à sua família e em 1999, foi vendido por descendentes residentes nos Estados Unidos aos frades capuchinhos, amigos da família.
Relatos históricos mencionam diversos incêndios provocados por velas acesas, sendo o último no final do século XIX e a capela foi restaurada no início de 1900.
A construção da capela envolve lendas locais e uma delas conta que um pastor encontrou uma estatueta de Nossa Senhora numa escavação nas rochas próximas e a levou à então vila, hoje cidade de São Filipe.
Colocada no altar, a imagem teria "regressado misteriosamente” ao local original três dias depois, até que, segundo a lenda, a santa teria conversado com o pastor, indicando onde desejava permanecer.
Outro episódio lendário dá conta de que, no momento da construção, não havia madeira disponível na ilha, mas pranchas surgiram misteriosamente numa praia próxima, consideradas, à época, um milagre.
Acredita-se que a madeira seria de um navio naufragado e que a imagem pertenceria a um dos passageiros.
Ainda hoje, circula a crença de que qualquer tentativa de construção próxima ao santuário pode resultar na morte do responsável antes da obra ser concluída.
Um caso citado é de um familiar dos antigos proprietários, que faleceu antes de terminar uma casa que pretendia usar para dar apoio às festividades do dia 05 de Agosto.
A romaria a Nossa Senhora do Socorro continua sendo uma expressão viva da fé popular e um marco espiritual para a comunidade de São Filipe e toda a ilha do Fogo.
JR/AA
Inforpress/Fim
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