Cidade da Praia, 05 Set (Inforpress) – O primeiro-ministro, Ulisses Correia e Silva, disse hoje que a era digital impõe um novo modelo de liberdade de imprensa em que “pós-verdade” e a “política quântica” prevalecem, confundindo as fronteiras entre a verdade e a mentira.
Durante o discurso de encerramento da Conferência Regional sobre a Integridade da Informação na África Ocidental e no Sahel, o chefe do Governo destacou que, neste novo contexto, não existem fronteiras claras entre verdade e mentira, entre bem e mal, e que “a mentira muitas vezes se impõe”, provocando uma ameaça real à integridade da informação e à própria democracia.
Ulisses Correia e Silva explicou que esse fenómeno não é novo, mas ganhou dimensão e expansão significativa devido ao avanço das redes sociais e da inteligência artificial, que facilitam a difusão massiva e rápida de conteúdos falsos, manipulados ou tendenciosos.
“O problema não está, essencialmente, ao nível do acesso à informação, mas ao nível dos conteúdos e da facilidade da difusão desses conteúdos”, afirmou, asseverando que esta difusão coloca ao mesmo nível o extremismo, o populismo e o radicalismo no comportamento social.
O chefe do Executivo sublinhou que o combate a este novo modelo de liberdade deve passar pela conciliação entre regulação do sistema de informação, protecção da liberdade de expressão e imprensa e promoção da literacia digital, desde a família e a escola até à comunidade.
Realçou os impactos sociais negativos, especialmente sobre os grupos mais vulneráveis, que são expostos à desinformação, manipulação, abusos, práticas radicais e à desumanização das relações sociais.
“Por mais regulação jurídica, técnica que se faça, as vulnerabilidades estão aí nas pessoas, estão aí no acesso à informação, estão aí no uso da informação”, alertou.
Segundo o primeiro-ministro, trata-se de exemplos recentes em que a desinformação ganhou terreno, relativizando evidências científicas e aumentando a desconfiança nas instituições.
Ulisses Correia e Silva enalteceu a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), enquanto organizador, destacando que a conferência permite discutir as múltiplas dimensões do fenómeno da desinformação, incluindo as esferas política, judicial, tecnológica, social e de segurança.
Apesar dos riscos, o governante disse que a era do digital e da inteligência artificial veio para ficar e que constitui um acelerador que muda sociedades, com grandes vantagens a nível da ciência, do conhecimento, da saúde, da segurança e da economia.
“É neste contexto que nós devemos tirar o melhor proveito da globalização do acesso ao digital e à inteligência artificial, em democracia, no respeito pelas liberdades, no respeito pelos direitos humanos”, elucidou, realçando que deve ser feito um combate firme às informações falsas.
O evento aconteceu durante três dias e reuniu membros de Governos responsáveis pela comunicação, educação e tecnologias de informação, académicos, jornalistas, organismos de regulação e auto-regulação dos meios de comunicação social e organizações da sociedade civil.
LT/HF
Inforpress/Fim
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