“Cabo Verde é muito importante em África e deve exercer mais influência na governação global” – embaixador da China
Cidade da Praia, 22 Set (Inforpress) – O novo embaixador da China na Praia, Zhang Yang, considera que Cabo Verde é um país muito importante em África, pelo que deve exercer mais influência no sistema de governança global.
“Acho que os dois países [China e Cabo Verde] podem juntar as mãos para construir um mundo com um sistema de governança global mais justo e mais equitativo”, apelou o representante de Pequim na capital cabo-verdiana, em entrevista exclusiva à Inforpress.
Zhang Yang disse que a ONU é a “plataforma central” para se praticar o multilateralismo e promover a governança global e, segundo ele, o seu papel “deve ser reforçado ao invés de enfraquecido”.
Os países em desenvolvimento, prossegue o diplomata, devem unir-se para ter “maior força e contribuir o melhor possível para o mundo”.
Na sua perspectiva, o mundo está a ser marcado por “turbulências e mudanças” que não se via há um século e que a ONU e o multilateralismo “estão sendo desafiados”.
“Os propósitos e princípios da Carta da ONU não têm sido efectivamente observados”, lamentou o diplomata.
Apelou a Cabo Verde a aderir à iniciativa chinesa para a governança global, a fim de os dois países defenderem juntos o sistema internacional centrado nas Nações Unidas e a ordem internacional alicerçada no direito internacional.
Zhang Yang manifestou igualmente o desejo de o arquipélago aderir ao chamado Acordo 4 para o desenvolvimento conjunto da parceria económica entre os dois países. Este acordo prevê que a China aplique tarifa zero para todos os produtos de países africanos com os quais tem relações diplomáticas.
Reiterou que a “adesão firme” de Cabo Verde ao princípio de uma só China demonstra a existência de uma relação “muito sincera” entre os dois países.
Para o representante de Pequim na Praia, há um consenso muito amplo e transversal a todos os sectores da sociedade cabo-verdiana quanto a uma China indivisível.
“É por isso que entre os amigos eu não vou usar a palavra ‘satisfeito’”, pontuou Zhang Yang, preferindo classificar a relação entre o seu país e o arquipélago como sendo “muito sincera”.
Espera que, no final da sua missão em Cabo Verde, as relações bilaterais entre os dois Estados atinjam um patamar ainda mais alto em relação ao que existe actualmente.
Zhang Yang mostra-se muito satisfeito pelo facto de sentir que os cabo-verdianos nutrem uma amizade “muito grande” pela China.
“Isso também mostra uma confiança. Na China, há um ditado popular, segundo o qual uma pessoa sem confiança não podemos tratá-la como pessoa”, enfatizou a fonte da Inforpress, acrescentando que, para o ser humano, a confiança é algo muito importante.
“Uma pessoa sem confiança, não podemos tratá-la como uma pessoa. Significa que a confiança é mais importante para um ser humano”, indicou, acrescentando que entre os amigos, quando se tem confiança, as coisas são muito mais fáceis de se realizarem.
Zhang Yang não tem dúvida de que as relações entre China e Cabo Verde estão a um bom nível porque existe a confiança política mútua que, enfatizou, “é o núcleo para cuidar dos interesses principais de cada um dos nossos países”.
“Precisa a China falar com Cabo Verde para que tenha cuidado com os interesses chineses? Ou vice-versa? Não precisamos de fazer isso”, observou o diplomata.
Garante que a China é, também, muito sincera nas suas relações com Cabo Verde, além de estar firme no seu apoio ao arquipélago na sua construção e modernização, conforme a escolha do próprio país.
Acrescentou que, quando anda pelas ruas, as pessoas lhe indicam que este ou aquele edifício foi construído com a assistência chinesa.
“Eu sinto-me muito orgulhoso. Esse orgulho também vem da nossa sinceridade entre os amigos”, vincou Zhang Yang, acrescentando que, para a China, a ajuda entre os amigos não é contabilizável e, por isso, “não vamos contar o que nós ganhamos ou perdemos”.
Perguntado se a estabilidade social e política em Cabo Verde poderá proporcionar mais realizações chinesas no arquipélago, afirmou que isto é uma “condição principal para atrair mais investimentos”.
“Acho que, no que diz respeito à China e Cabo Verde, na área de investimentos, é imprescindível um ambiente, um mundo mais pacífico e mais estável”, sublinhou.
Para Zhang Yang, é preciso também haver uma reforma do sistema financeiro internacional.
“Eu sei que Cabo Verde mantém uma relação de cooperação muito boa com as instituições financeiras internacionais, incluindo a China”, garantiu, reforçando a ideia de que a guerra das tarifas afectará também o investimento e o comércio entre a China e a África.
Ainda sobre a guerra das tarifas, entende que o seu país é o primeiro a ser afectado, mas, salientou, “está muito persistente para dizer não”.
“Até agora, a China não concordou com nenhuma das condições que não sejam razoáveis e justas”, explicou o embaixador, apontando que estas questões afectam a cooperação bilateral entre o seu país e Cabo Verde na área do comércio e investimento.
No ano 2021, a China conseguiu erradicar a pobreza absoluta, segundo o embaixador, levando para o efeito umas dezenas de anos.
“Conseguimos tirar milhões e milhões de pessoas da pobreza absoluta”, congratulou-se Zhang Yang.
Esta proeza, de acordo com o representante de Pequim, se deve ao facto de a China ter um Governo “muito poderoso”.
“O Governo pode enviar funcionários às aldeias, para que estejam lá com o povo. O tempo máximo é de dois anos”, indicou, precisando que as regiões mais desenvolvidas ajudam também as menos favorecidas.
Instado como que a China poderá transmitir a sua experiência a Cabo Verde na sua luta para a erradicação da pobreza absoluta, Yang admite uma “aprendizagem mútua”, porque, justificou, entre os dois países existem “condições naturais bem diferentes”.
Durante a sua missão, pretende inteirar-se sobre como Cabo Verde vai concretizar as suas estratégias para o futuro.
“Primeiro, que o país seja mais poderoso. Segundo, que o povo [cabo-verdiano] tenha melhores condições de vida”, desejou o embaixador.
Questionado sobre a nova política da China em matéria demográfica, explicou que o objectivo é o de evitar o envelhecimento da população.
“A questão da população é comum a todos os países”, concluiu o embaixador, assinalando que o seu país tem uma “população enorme”.
Zhang Yang anunciou, por outro lado, que a embaixada está a preparar kits escolares para as crianças das famílias carenciadas, para que tenham materiais escolares para o novo ano lectivo.
No próximo ano, China e Cabo Verde celebram 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre os dois Estados.
A China tem sido fundamental na construção de diversas infra-estruturas em Cabo Verde, como a primeira barragem de Cabo Verde (Poilão), no interior de Santiago, o novo Campus da Universidade de Cabo Verde e o Estádio Nacional, os palácios da Assembleia Nacional e do Governo, respectivamente.
No sector da saúde, equipas médicas chinesas têm trabalhado no arquipélago desde 1984, proporcionando suporte médico e formando profissionais de saúde locais.
A China também tem apoiado iniciativas voltadas para a segurança interna e o desenvolvimento da economia azul. No domínio da educação, tem oferecido bolsas de estudo para estudantes cabo-verdianos.
LC/HF
Inforpress/Fim
Partilhar