Fogo: Estudo identifica áreas críticas para aves marinhas em Cabo Verde e propõe medidas para reduzir impactos da pesca artesanal

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Fogo: Estudo identifica áreas críticas para aves marinhas em Cabo Verde e propõe medidas para reduzir impactos da pesca artesanal
11/10/25 - 02:00 am

São Filipe, 11 Out (Inforpress) – Um estudo científico que mapeou as áreas mais importantes para as aves marinhas e interacção com a pesca artesanal identificou áreas críticas para aves marinhas e propôs soluções para reduzir o impacto, como criação da rede de áreas protegidas.

Avaliação é o investigador e professor da Universidade de Barcelona (Espanha) Jacob González-Solís durante apresentação da temática “áreas importantes para as aves marinhas de Cabo Verde e a sua interacção com as pescas artesanais” e propõe soluções para minimizar os impactos negativos sobre essas espécies vulneráveis como a criação da rede de áreas protegidas.

Segundo o especialista, Cabo Verde é um dos locais mais importantes do mundo para aves marinhas, abrigando oito espécies reprodutoras, das quais cinco são endémicas do arquipélago, mas observou que algumas dessas espécies enfrentam ameaças significativas devido à captura acidental em actividades da pesca artesanal, em especial a cagarra e o rabo-de-junco, mas também o Alcatraz e o Pedreiro, em menor grau.

“A pesca artesanal não afecta todas as espécies, mas o número de capturas acidentais é elevado. Felizmente, há soluções, e elas passam necessariamente por trabalhar em conjunto com os pescadores”, afirmou Jacob González-Solís.

O especialista que há vários anos trabalha com organizações ambientalistas em Cabo Verde lembrou que a pesca com linha de mão, predominante nas comunidades locais, é uma das mais selectivas do mundo e deve ser preservada, mas com ajustes para reduzir o impacto ambiental.

Entre as soluções estudadas estão a utilização de aves artificiais para afugentar espécies e reduzir a atração delas pelos barcos de pesca, mudanças nos horários e profundidade de pesca e restrições temporárias em áreas sensíveis durante períodos críticos, como a fase de voo de juvenis de cagarras.

O mesmo avançou que estudos-piloto com estas soluções já foram realizados por organizações como BirdLife, BirdLife-Dakar, Biosfera, e outras ONG nacionais, apontando caminhos promissores de mitigação.

Ao longo da última década, uma rede de investigadores, incluindo universidades e organizações como Associação Projecto Vitó, BioCV, Lantuna, Fundação Maio Biodiversidade e Associação Projecto Biodiversidade, rastreou com GPS as oito espécies de aves marinhas que nidificam em Cabo Verde e o resultado é um mapa detalhado das zonas mais utilizadas por estas aves para alimentação, descanso e reprodução.

O especialista salientou que duas áreas se destacam, sendo uma na região entre Fogo, Rombos e Brava, sendo que nos Ilhéus Rombos se encontra um dos principais locais de nidificação, e a outra a zona dos ilhéus de Barlavento – Branco, Raso e Santa Luzia,  também considerados de alta importância ecológica, apesar de Santa Luzia ainda não ter colónias activas, mas no futuro poderá ter com a sua recolonização.

Outras áreas de forte utilização incluem a costa nordeste de Santiago, especialmente importante para o Gongon, uma espécie endémica com ameaças adicionais, como predação por espécies invasoras (gatos e ratos), poluição luminosa e pressão humana directa.

“Estas zonas costeiras próximas às colónias, conhecidas como extensões de navegabilidade, têm uma intensa actividade das aves e são prioritárias para proteção”, explicou Jacob González-Solís.

O investigador sublinhou que este é o momento ideal para criar uma rede de áreas marinhas protegidas em Cabo Verde, antes que o aumento da pesca, da mineração submarina ou de projectos como parques eólicos offshore compliquem a gestão do espaço marinho.

“Estamos num ponto crucial. Proteger estas áreas agora é garantir um futuro para a biodiversidade marinha e uma base sólida para o desenvolvimento sustentável. O que definirmos hoje será essencial para gerir os interesses que surgirão amanhã”, destacou. 

O estudo reforça, portanto, a urgência de incluir as zonas identificadas no planeamento nacional de conservação marinha, contribuindo directamente para os compromissos internacionais assumidos por Cabo Verde em matéria de biodiversidade, mudanças climáticas e Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030).

JR/JMV

Inforpress/Fim

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