***Por Latoya Tavares, da Agência Inforpress***
Cidade da Praia, 31 Jul (Inforpress) - No universo das bonecas artesanais, uma marca cabo-verdiana tem transformado panos tradicionais africanos em poderosa ferramenta de representatividade e identidade cultural, confeccionados para exaltar a beleza negra, resgatar as tradições e o orgulho de um povo pelo seu continente.
Assim descreveu a artesã Edmara Cunha, proprietária da marca “Alkebulanis”, criada através de uma conexão profunda com a cultura africana, um sentimento que, conforme contou em entrevista exclusiva à Inforpress, sempre esteve enraizado no seu ser e no seu trabalho.
Edmara Cunha, que actualmente vive nas terras portuguesas, explicou que em meio à diversidade artística e cultural, a paixão pelas bonecas deu lugar à Alkebulanis, uma paixão que iniciou de forma paralela através de um workshop sobre Arte Criativa em que participou há cerca de seis anos.
“Ali havia muitas coisas para se aprender, e as bonecas foram exactamente o que mais me chamou a atenção. Comecei a fazê-las não para ser consistente, e foi para conseguir algum dinheiro no início”, recordou a artista, realçando que a actividade realizada enquanto trabalhava em outra empresa, deu lugar à sua carreira artística.
Edmara Cunha disse que passou a se dedicar à confecção das bonecas, que rapidamente ganharam reconhecimento e alta procura de clientes que passaram a pedir bonecas personalizadas nas redes sociais na sua antiga página Sara Atelier.
O nome Alkebulanis tem um significado especial, derivado do árabe “Alkebulan” é um dos nomes mais antigos do continente africano, e pode ser traduzido como “mãe da humanidade” ou “jardim do Éden”.
“Foi o nome que muitos historiadores atribuíam à África antes dos europeus dominarem o continente”, explicou a criadora, enfatizando que essa herança cultural é celebrada em cada boneca por meio dos penteados, cores vibrantes e quentes, com tecidos africanos cuidadosamente seleccionados.
Apesar da maioria das bonecas apresentarem pele negra, Alkebulanis também atende encomendas para tons de pele variados, reflectindo a diversidade, a miscigenação e a inclusão de uma nação.
“Alkebulanis é a celebração da beleza africana para mim”, afirmou, esclarecendo que para confeccionar as bonecas, a artista mantém contacto com lojas especializadas em produtos africanos, principalmente em Portugal e em Cabo Verde, onde se consegue os tecidos típicos necessários para manter a autenticidade do trabalho.
Afirmou que a parceria com a marca Africa On Top, também comandada por uma amiga, tem sido “fundamental” para o acesso a esses materiais.
Destacou que a marca já vendeu cerca de 30 bonecas num mês e participado de eventos voltados para a comunidade africana em Portugal, como o recente festival AfroNation.
Mais do que vender bonecas, a criadora de Alkebulanis disse que a missão é clara, a de mostrar às crianças desde pequenas a beleza da pele negra e sentirem-se representadas, não apenas através de um brinquedo, mas na reafirmação da identidade e do orgulho de uma cultura rica e diversificada.
“Para mim, tudo o que é feito à mão exige muito cuidado, exige muito amor, tem de ter algum propósito. E o meu propósito, como um dos agentes da sociedade é fazer algo para as pessoas, para a minha comunidade”, finalizou.
Assinala-se hoje, 31 de Julho, o Dia da Mulher Africana, que foi instituído em 1962, durante a Conferência das Mulheres Africanas em Dar-es-Salaam, Tanzânia, com o objectivo de homenagear as conquistas e a luta das mulheres africanas, além de promover a igualdade de género e o desenvolvimento social, económico e cultural do continente.
LT/ZS
Inforpress/Fim
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