Boa Vista: Sarau de poesia apela ao resgate urgente da obra de Daniel Filipe no centenário do poeta

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Boa Vista: Sarau de poesia apela ao resgate urgente da obra de Daniel Filipe no centenário do poeta
28/10/25 - 11:58 am

Sal Rei, 28 Out (Inforpress) – O “Sarau de Poesia” em homenagem ao centenário do poeta cabo-verdiano Daniel Filipe, realizado na Boa Vista, terminou com um apelo conjunto para o resgate urgente da obra do autor, natural da ilha, mas desconhecido na sua terra natal.

O evento, que decorreu na noite desta segunda-feira, no Centro de Artes e Cultura (CAC), por iniciativa do poeta Rui Araújo e com o apoio da câmara municipal, expôs a ironia do desconhecimento local de Daniel Filipe (Boa Vista, 1925 – Lisboa, 1964), estudado em Portugal e Brasil e figura de destaque na literatura lusófona.

O ponto central do sarau foi a declamação emotiva do poema "A Invenção do Amor", de 192 versos, símbolo da luta de Daniel Filipe contra o fascismo português. O poema foi declamado por Rui Araújo, acompanhado pelo guitarrista Romeu Mosso, ligando a temática da resistência à celebração dos 50 anos de independência de Cabo Verde.

“Daniel Filipe é um homem que batalhou pela liberdade. No momento em que se celebra a liberdade, não se pode deixar de celebrar a independência também”, afirmou Rui Araújo.

A poesia de Daniel Filipe, que combina a luta política com a saudade das ilhas, foi contextualizada pela leitura de obras de outros grandes nomes da poesia cabo-verdiana, como Eugénio Tavares, Baltazar Lopes, Jorge Barbosa, Oliveira Barros e Amílcar Cabral.

Um dos temas mais debatidos foi o desconhecimento do poeta, que é autor de obras como o romance “Tomasinho cara feia", com um texto em manuais do 1.º Ciclo em Cabo Verde.

A professora de Literatura Helena Duarte destacou que a recuperação da obra de Daniel Filipe teve uma forte componente externa, destacando a tese de mestrado da brasileira Simone Caputo Gomes, de 1979, “Uma recuperação de raiz: Cabo Verde na obra de Daniel Filipe".

A professora apontou que o poeta esteve no "radar" dos estudos lusófonos no exterior muito antes de ser redescoberto localmente, atribuindo o desconhecimento ao facto de Daniel Filipe ter nascido “numa época em que Cabo Verde não existia como nação," e ter sido criado em Portugal, onde faleceu em 1964.

Os participantes, como Valnir Moraes, realçaram a urgência da geração actual investigar e resgatar o legado do poeta para enriquecer a cultura e história local, levando-o a escolas e museus.

Rui Araújo manifestou-se "perfeitamente feliz e espantado" com a "sede total de cultura" do público, esperando que o evento impulsione um movimento para resgatar os nomes ilustres da ilha.

Daniel Damásio Ascensão Filipe foi um poeta e jornalista que se destacou na literatura lusófona do século XX. Levado para Portugal ainda criança, o seu trabalho é marcado pelos temas da saudade, solidão, exílio, e pelo forte comprometimento social.

Foi colaborador em publicações como a Távola Redonda e co-diretor dos cadernos de protesto Notícias do Bloqueio, e um ativo combatente contra a ditadura de Salazar, sendo perseguido e torturado pela PIDE. Deixou como legado obras essenciais como “A ilha e a solidão”, Prémio Camilo Pessanha, e o seu mais célebre poema, "A invenção do amor", um ícone de resistência que celebra a liberdade.

MGL/CP

Inforpress/Fim

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