Cidade da Praia, 06 Mai (Inforpress) – As associações cabo-verdianas de pessoas com deficiências enaltecem os progressos alcançados, 50 anos depois, mas alertam para os desafios que persistem no país para as pessoas com deficiência e que versam uma inclusão efectiva.
A presidente da Associação de Pais e Amigos de Crianças e Jovens com Necessidades Especiais (Colmeia), Isabel Moniz, partilhou com a Inforpress, como a organização tem enfrentado e combatido esses desafios, ao longo de uma trajectória de crescimento e sensibilização.
Segundo a presidente, em relação ao progresso alcançado ao longo dos 50 anos de independência de Cabo Verde, houve avanços significativos, com criação de leis específicas, a formação de especialistas na área da reabilitação e o estabelecimento de parcerias com outras organizações da sociedade civil têm sido marcos importantes.
“Durante estes 50 anos de independência, nós estamos labutando e detalhando para que essas respostas sejam dadas, porque é uma política pública de melhoria da qualidade de vida do cidadão que estiver na condição da deficiência, para que tenhamos, de facto, um país inclusivo”, disse Isabel Moniz.
Segundo a mesma fonte, a sensibilização sobre a inclusão e a defesa dos direitos das pessoas com deficiência tem-se intensificado, com a realização de marchas, petições e campanhas de conscientização.
Apesar dos avanços, Isabel reconhece que ainda existem desafios a superar, já que, segundo a presidente, o Estado tem feito progressos na implementação de políticas públicas, mas a inclusão efectiva ainda precisa de mais trabalho para garantir que todas as áreas, como a saúde, a educação e a protecção social se integrem de forma inclusiva e equitativa.
Uma das contribuições mais notáveis da Colmeia tem sido a mudança de mentalidade em Cabo Verde, especialmente no que diz respeito à valorização das pessoas com deficiência.
Em relação ao futuro, Isabel é optimista quanto à possibilidade de Cabo Verde se tornar um país ainda mais inclusivo.
Ela acredita que o trabalho da sociedade civil, das organizações como a Colmeia, e do próprio Estado, deve ser contínuo para uma maior compreensão das necessidades das pessoas com deficiência e uma implementação mais eficaz de políticas públicas que garantam uma sociedade mais justa e igualitária.
Por seu turno, a presidente da Associação dos Deficientes Visuais de Cabo Verde (Adevic), Laura Rocha, enaltece os ganhos alcançados, mas lembra que ainda existem algumas lacunas que persistem e devem ser eliminadas.
Segundo a dirigente, a associação tem registado conquistas importantes, sobretudo no acesso à educação.
"Hoje em dia temos ensino gratuito e algumas salas já estão equipadas, embora ainda não totalmente preparadas para aulas em braille", afirmou.
Laura Rocha acrescentou que a sociedade cabo-verdiana está mais sensibilizada e que, ao contrário de tempos antigos, as pessoas com deficiência visual já têm mais acesso à informação, à educação e à participação social.
Contudo, os desafios ainda são muitos. A mobilidade urbana continua a ser um problema sério, com passeios frequentemente ocupados por carros estacionados e transportes públicos que não oferecem acessibilidade adequada.
“Os autocarros devem ter sistemas de voz a anunciar as paragens e os números das linhas para facilitar a nossa locomoção”, disse.
A dirigente salientou também a escassez de professores especializados em braille e defendeu que deveria haver, pelo menos, um professor capacitado em cada escola do país, mas reconhece que houve melhorias significativas nos últimos anos.
Apesar dos estereótipos ainda existentes, considera que estes têm vindo a ser quebrados progressivamente.
“As pessoas estão mais abertas, mas ainda existe a ideia de que não somos capazes de fazer certas coisas”, concluiu.
Para o presidente da Associação Cabo-Verdiana de Pessoas com Deficiência (ACD), Bernardino Gonçalves, a criação da ACD em 1994 marcou uma grande conquista ao quebrar a cultura da época, em que as pessoas com deficiência eram vistas como passivas e dependentes.
Posteriormente, foi criado o comité do desporto adaptado, que trouxe as primeiras medalhas internacionais para Cabo Verde, e hoje representa a inclusão de centenas de atletas, sendo um exemplo visível e eficaz de inclusão social e bem-estar para pessoas com deficiência.
“A ACD ofereceu a Cabo Verde o Centro Nacional Ortopédico e de Reabilitação Funcional, (Cenorf), único centro de reabilitação que faz com que, na área da reabilitação ortoprotésica já não se faz evacuação para protetização, fora do país”, acrescentou.
O dirigente lembrou que, através da Lumiart, a ACD criou a primeira unidade de velas dando à associação o papel de um dos maiores empregadores de pessoas com deficiência em Cabo Verde.
Porém, para Bernardino Gonçalves, ainda existem desafios, nomeadamente, com o despertar dos muitos quadros pessoas com deficiência no país e na diáspora para emprestarem as suas habilidades, rede de contacto e recursos financeiros em prol da causa e da luta por mais inclusão.
“Permanece sempre o desafio do emprego e rendimento que passa por removermos, progressivamente, as barreiras mentais e outras de forma que as pessoas com deficiência tenham capacidades e competências para aceder”, conclui.
JBR/HF
Inforpress/Fim
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