
Espargos, 27 Out (Inforpress) – O estúdio “Chave da Liberdade”, na Cadeia Regional do Sal está a consolidar-se como um “pilar fundamental” no processo de reinserção social dos reclusos, com a produção musical a revelar-se de "boa qualidade".
Em entrevista à Inforpress, o director da cadeia, Bernardino Semedo, sublinhou que a música é um dos vários eixos de um leque de capacitações que visam uma transformação social efectiva.
Segundo Bernardino Semedo, o trabalho no estúdio insere-se na linha da reinserção social e utiliza a "identificação com a música" por parte dos reclusos.
O projecto, que começou com a apresentação de propostas e a criação de bandas, evoluiu para um estúdio de gravação que, até ao momento, já produziu mais de 30 a 40 músicas com a qualidade exigida para o mercado.
"O trabalho de estúdio entra naquela linha de plano de reinserção social e trabalhamos com várias vertentes de formação, mas neste caso os reclusos que se identificam com a música apresentaram algumas propostas e até agora temos reparado que o estúdio está a produzir trabalhos de boa qualidade que têm tido uma aceitação boa no mercado”, afirmou Semedo.
O estúdio é coordenado por um agente, e todas as músicas são sujeitas a uma análise de conteúdo e letra para garantir a sua qualidade e sensibilidade.
A gestão dos talentos dentro da cadeia é feita de forma organizada, com o coordenador do sector a ser responsável pelos planos de ensaio e gravação.
Os conflitos têm sido evitados através desta estrutura, garantindo que apenas as músicas prontas e com a qualidade exigida cheguem à produção final.
A aceitação do público para os artistas que emergem da cadeia tem sido "agridoce" – um misto de apoio de quem reconhece a oportunidade e o estigma de outros que ainda vêem a cadeia como um fim.
No entanto, o director enfatiza que o objectivo é que o trabalho desenvolvido prepare os reclusos para a sociedade, preparando-os para uma "forma diferente" de vida, o que faz sentido à revolução da reinserção.
A música, conforme a mesma fonte, é apenas uma parte de um programa de capacitação mais vasto.
A cadeia aposta também em artes, pintura urbana e artesanato, formação profissional de barbeiros e aulas de inglês, assim como aposta na agricultura, em que os reclusos trabalham na horta, produzindo para a cadeia e para o mercado.
Actualmente, o estúdio conta com a participação de 21 reclusos, incluindo um número reduzido de raparigas que, embora a sua permanência seja mais curta, também estão inseridas no trabalho de ensaio e produção.
Relativamente à inclusão pós-liberdade, o ministério da Justiça possui um projecto de acompanhamento.
Na área da música, a estratégia inclui a divulgação das músicas em rádios nacionais, comunitárias e plataformas como YouTube e Spotify, garantindo que o artista tenha um nome reconhecido ao sair.
A maioria das músicas produzidas é a solo, levantando a questão dos direitos de autor.
Sublinhou ainda que as parcerias, nomeadamente com a câmara municipal na área da cultura e desportos, têm sido cruciais, contando com o apoio de professores da Escola de Artes, que ministram aulas de violão, clave, voz e guitarra.
O trabalho da Cadeia Regional do Sal é visto pelo director como uma forma de devolver a dignidade aos reclusos, permitindo que “contribuam para a sociedade e desmintam o preconceito”, mostrando que a música feita atrás das grades tem "conteúdo" e pode ser consumida pelo mercado.
NA/HF
Inforpress/Fim
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