
Cidade da Praia, 11 Set (Inforpress) – O bastonário da Ordem dos Engenheiros de Cabo Verde, Carlos Monteiro, realçou hoje a “grande preocupação” deixada por Amílcar Cabral, enquanto engenheiro agrónomo, nos seus artigos, com a produção alimentar das populações cabo-verdiana.
O também engenheiro agrónomo falava à Inforpress, a propósito das comemorações do centenário de nascimento de Amílcar Cabral, pai das nacionalidades guineense e cabo-verdiana, que se celebra esta quinta-feira, 12 de Setembro.
Contou que Amílcar Cabral formou-se em 1952, e o primeiro trabalho de vulto que se conhece foi o de apresentação final de curso para a sua graduação como engenheiro agrónomo em Portugal, apesar de já ter artigos escritos e publicados antes denominados “Entrevistas da Terra”.
Escritos esses que, sublinhou, mostram a preocupação enorme que ele tinha relativamente à produção alimentar das populações cabo-verdianas.
“Então, antes de ele ir para a Guiné, para a Angola, já tinha essa visão agronómica da protecção dos solos como condição importante para a alimentação dos povos de Cabo Verde”, disse, explicando que na altura o país tinha vivenciado mortes ocorridas pela falta de chuvas sendo que uma das causas era justamente a falta de cuidado para com o solo.
Por isso, o bastonário lamentou que infelizmente as sugestões que ele dá nos artigos não teve oportunidade de materializar, tendo em conta que a administração colonial portuguesa sentiu medo da sua presença em Cabo Verde e o despachou para longe das ilhas.
“Estamos a falar de uma época de 1945, 50, 56, é um contexto diferente, contexto da administração colonial portuguesa (…), mas os escritos que ele nos deixou sobre Cabo Verde mostra a preocupação não só com a conservação de solos, como também sobre a conscientização da população, da administração, no que respeita à protecção de solos", afirmou.
Entretanto, Carlos Monteiro assinalou que as suas preocupações foram retomadas posteriormente, tendo realçado que após a independência todos os trabalhos que tiveram lugar em Cabo Verde na conservação de solos, graças ao financiamento da cooperação internacional, vão no sentido da protecção de solos, florestação e de culturas mais adequadas ao clima.
“Então esses planos, sobretudo pelo Governo, corroboram hoje a preocupação de Amílcar Cabral, porque se não houver protecção de solos, não haverá plantas, não haverá alimento”, frisou.
Na sua perspectiva a protecção de solos não é mero discurso, mas sim, prática necessária que deve ser feita sempre tendo em conta as chuvas irregulares e por vezes intensas, para que o arquipélago possa ter solos aráveis e garantir alimento para o sustento do seu povo.
“Todas as medidas que ele tinha proposto são actuais e todos os Governos de Cabo Verde devem continuar a se preocupar com a conservação de solos”, defendeu, admitindo que esses trabalhos custam dinheiro, que pode haver outras prioridades, mas reforçou, a conservação de solos é fundamental.
Por outro lado, Carlos Monteiro considerou de extremamente importante a Ordem dos Engenheiros de Cabo Verde associar-se também a à figura de Amílcar Cabral prometendo apropriar o seu nome às actividades desta organização.
ET/CP
Inforpress/Fim
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