Artistas criticam falta de espaço para música tradicional nos festivais em Cabo Verde (c/vídeo)

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Artistas criticam falta de espaço para música tradicional nos festivais em Cabo Verde (c/vídeo)
30/10/25 - 01:15 am

Cidade da Praia, 30 Out (Inforpress) – A falta de espaço para a música tradicional nos grandes festivais do país é uma preocupação manifestada por alguns músicos, que já têm do Governo a garantia de acções concretas para reforçar esse género nos eventos culturais.

Bob Mascarenhas é um dos artistas desse género musical que reivindica um espaço nos festivais, por acreditar que se trata de uma das principais expressões da identidade cultural do país.

O músico e compositor sustenta, em declarações à Inforpress, que se se encontrar pelo menos dois artistas da música tradicional a actuar nos festivais em Cabo Verde já é uma “grande vitória”, mas, lamenta, “nem isso está a acontecer”.

Segundo o artista, conhecido pela sua “intransigência” na defesa e promoção da música tradicional, “os palcos estão voltados apenas para as músicas comerciais”, o que tem levado muitos músicos tradicionais a organizarem os seus próprios eventos.

“Se não levantarmos para fazer o nosso próprio festival, não vamos ter palco. Por isso, a maioria está a criar o seu próprio festival para poder viver”, conta, acrescentando que “nem o Ministério da Cultura, nem outras instituições estão a apoiar projectos ligados à música tradicional”.

Bob Mascarenhas alerta ainda para o que considera um “declínio da música cabo-verdiana” nos últimos anos, associando a situação à “falta de educação cultural” e à ausência de políticas públicas de incentivo.

Por sua vez, o músico e compositor Zé Rui de Pina partilha da mesma preocupação e defende um maior investimento na formação e valorização da música tradicional.

“Cabo Verde é conhecido pela sua cultura, e devíamos dedicar-nos mais à nossa música, que é a nossa identidade e o nosso maior recurso”, sublinha, apontando a ausência de uma universidade de música no país.

O artista considera que, actualmente, “os jovens estão mais voltados para o que está na moda” e que “a qualidade musical tem sido deixada para trás”. Denunciou que já lhe foi dito por um dos promotores que a sua música “não serve” para cantar num festival como a Gamboa.

“Já tive produtor que me disse que as minhas músicas não servem para o Festival da Gamboa, imagina, um artista da terra que não pode cantar a música da sua terra”, lamentou.

Diante das críticas sobre a reduzida presença desse estilo nos festivais e eventos nacionais, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Augusto Veiga, assegura que a predominância de outros estilos musicais nos festivais, em detrimento das musicas tradicionais, é uma preocupação partilhada pelo Governo.

“É uma situação que me preocupa muito, realmente, os festivais são organizados em mais de 90% pelas câmaras municipais, e temos visto que há uma predominância de outros estilos musicais. É uma luta que temos de fazer em conjunto, para alinhar os festivais e garantir mais espaço para a música tradicional”, afirma.

O governante revela ainda que o Governo está a desenvolver um projecto com o Banco Mundial para a criação de um pré-conservatório de música, destinado a jovens de Cabo Verde e da África Ocidental.

O objectivo é avançar, posteriormente, para a criação de um conservatório e, mais tarde, de uma universidade de música.

“Nós queremos apresentar, no início do próximo ano, um projecto chamado Campos da Cultura, que vai incluir a conservatória. Mas, para isso, precisamos construir todo um sistema, desde a base, desde as escolas primárias até chegar ao conservatório”, explica.

Augusto Veiga garante também que há esforços conjuntos com o Ministério da Educação para estruturar um programa de formação cultural e criativa de longo prazo, com duração prevista de cinco anos.

Apesar das críticas de alguns artistas, o ministro rejeita a ideia de um declínio da música tradicional.

“Acho que a criatividade dos artistas cabo-verdianos tem aumentado. Temos mais jovens a fazer música e mais nomes a representar Cabo Verde do que antes”, defende.

Augusto Veiga reforça ainda que a música e a cultura continuam a ser o “maior cartão de visita de Cabo Verde no mundo” e avança que o ministério está a negociar com as câmaras municipais a definição de horários e a valorização dos artistas nacionais nos festivais, incluindo no que toca à remuneração.

“Sem dúvida, a nossa música e a nossa cultura são o maior embaixador de Cabo Verde. Por isso, estamos a trabalhar para garantir que os artistas cabo-verdianos sejam mais valorizados e que a música tradicional tenha o espaço que merece”, conclui.

CG/SR//ZS

Inforpress/Fim

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