
Cidade da Praia, 13 Dez (Inforpress) - Multiplicam-se as manifestações de tristeza pela morte, na sexta-feira, aos 66 anos, do jornalista cabo-verdiano radicado em Portugal André Moura “Denda”.
A Inforpress não conseguiu ainda apurar a causa da morte do antigo jornalista da Televisão Experimental de Cabo Verde (TEVEC), mas fontes não confirmadas avançam que Denta terá sido encontrado sem vida em casa.
Nascido a 25 de Novembro de 1959 em Cabo Verde, onde foi, no início dos anos 80, professor do antigo Ciclo Preparatório, no concelho do Tarrafal, Denda vivia há várias décadas em Portugal, onde exercia o jornalismo em vários órgãos de comunicação social, com passagens frequentes por Bissau e Luanda.
A notícia da morte de André Moura surpreendeu muitos colegas de profissão e amigos, nomeadamente o Presidente da República, que nas redes sociais já manifestaram pesar pela morte do também antigo locutor da Radio Nacional de Cabo Verde.
“Vestiu o seu melhor fato - nem sei se tinha outro - para se encontrar comigo, a seu pedido, no Palácio do Presidente. Como sempre que nos encontrávamos, falamos da política doméstica, da Guiné-Bissau, da literatura, das eleições e de tantas outras coisas da vida e do quotidiano das ilhas”, recordou o Presidente da República, José Maria Neves, na sua página de rede social Facebook.
Também o jornalista Álvaro Ludjero Andrade já veio manifestar o seu mais profundo pesar por este facto.
“Hoje chega a notícia, vinda de amigos comuns, de que o André Moura, o Denda, não ligará mais. Ele partiu, de repente, sem avisar. Assim como sempre foi”, escreveu, lembrando que conheceu o Denda “nos fins de 1980 e inícios de 1990, no então resistente Café Cachito ou na Praça Alexandre Albuquerque, local de encontros especialmente na ´boca noti´, quando ensaiava os primeiros passos no jornalismo”.
“Junto com o saudoso Manuel Delgado, outro amigo dos cafés, da boa conversa e das análises políticas. Ele ja estava nessas andanças, especialmente em Lisboa, antes tinha tido uma breve passagem pela TEVEC, segundo me contaram. Ele era muito discreto”, acrescentou.
Quem também lamentou a partida de André Moura foi o antigo ministro de vários governos do PAICV, o diplomata e escritor Jorge Tolentino.
“No início era o Denda. O André Moura veio depois, uns bons anos depois, e ficou, meio a favor, como uma espécie de pseudónimo. Denda! Nome límpido e sonante desse cabo-verdiano genuíno, de desconcertante simplicidade e um olhar sempre arguto com que acicatava o debate e procurava ir ao por dentro das questões”, descreveu Jorge Tolento, na sua página pessoal de Facebok.
Para Jorge Tolentino, Denda era, antes de mais, amigo. “Preocupar-se com os seus amigos era, porventura, o traço mais fundo do como passou por este mundo. Conhecemo-nos lá longe nesses tempos irrepetíveis da Praia pós-Independência, cidade então tão pacata quanto imensa nas suas estórias e lugares com História”, sublinhou Tolentino.
Denda tinha gosto, nas palavras de Jorge Tolentino, “na sua Praia, no seu Brasil, na sua Txada de Santo António e vivia com orgulho esse seu e nosso país a crescer”.
Segundo Jorge Tolentino, André Moura divertia-se com as peripécias e as personagens por trás delas.
“E ria-se. Ria-se sempre. Nunca se chateou com as coisas da terra. Pois que era assim que quis viver. Foi um homem discreto na sua cidade e no seu país”, vincou o escritor e diplomata.
“Vejo-o a mover-se por entre os escaparates da primeira Feira do Livro Português, ao Parque 5 de Julho acabado de inaugurar, como o vejo na Esplanada da Praça 12 de Setembro ou a chegar ao Cinema Sibéria, no Bairro Craveiro Lopes, ou a acompanhar os trabalhos da Assembleia Nacional ou a ler um jornal aí no Poeta ou à uma boa cachupa na Associação Cabo-Verdiana de Lisboa...”, escreveu Tolentino, sublinhando que “Denda sabia muito de muitos assuntos”.
“Desconheço se terá sistematizado as suas memórias e os seus papéis. E lembro-me do seu substancial trabalho jornalístico, com artigos e reportagens vários, publicados sobretudo em Portugal, que nos ajudaram a discretear temas dominantes nos finais desses anos oitenta e nos anos noventa. Fez mesmo algumas entrevistas marcantes. Tinha uma escrita solta, precisa, agradável”, recordou Jorge Tolentino.
JMV/JMV
Inforpress/fim
Partilhar