ENTREVISTA: Djopan diz-se um cidadão correcto, que gosta da noite sem ser boémio e de estar rodeado de amigos (c/áudio)

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ENTREVISTA: Djopan diz-se um cidadão correcto, que gosta da noite sem ser boémio e de estar rodeado de amigos (c/áudio)
30/09/25 - 03:00 am

*** Por Sandra Custódio, da Agência Inforpress***

Cidade da Praia, 30 Set (Inforpress) – José Pedro Oliveira, Djopan, actual embaixador de Cabo Verde no Brasil, foi o primeiro proprietário do restaurante Poeta, na Praia, define-se como um homem correcto, que gosta da noite sem ser boémio e de estar rodeado de amigos.

Hoje falamos com José Pedro Máximo Chantre de Oliveira, Djopan, como é mais conhecido, que a partir do maior país da América do Sul, mais concretamente, de Brasília, disponibilizou-se para esta entrevista incomum, via WhatsApp, à Inforpress para “bisbilhotar-lhe”, bem entendido, um pouco a sua vida enquanto homem, ser humano e cidadão comum.

Antigamente colocava-se nome grande às pessoas, e Djopan explicou que o seu nome, Máximo é com X, o pai queria que fosse com dois S's, mas os funcionários do Registro acharam que estava errado, que não se escrevia com dois S's, e mudou-se para X, tendo ele assim, ficado com um prenome de três santos, São José, São Pedro e São Máximo.

Natural de Santo Antão, na localidade de Chã de Pedras, na altura, conforme recordou, um dos vales mais concorridos da Ribeira Grande, mas que tem vindo a retroceder e a perder importância, Djopan é oriundo de uma família “remediada”, pais agricultores que tinham a preocupação de guardar as colheitas do milho de um ano para o outro até que chegasse a confirmação da próxima apanha.

Ali viveu uma “infância feliz” com todas as privacidades de então, até os 10 anos, quando terminou os estudos primários, a quarta classe, o chamado segundo grau, e mudado para São Vicente para continuar os estudos no Liceu Gil Eanes, deixando a casa dos progenitores na tenra idade, passando a viver em casas de famílias que recebiam hóspedes, alunos que vinham sobretudo de Santo Antão.

Concluído o sétimo ano, seguiu em 1973 para Portugal, onde foi estudar Engenharia Civil, na Faculdade de Ciências, em Lisboa, mas com o 25 de Abril, uma das marcas da sua vida, voltou para Cabo Verde sem concluir a faculdade, optando por fazer a travessia para a Independência de Cabo Verde, mas em 1976, “bateu com a porta”, deixando de pertencer ao PAIGC, que vinha sendo desde a clandestinidade.

Nisto, foi com uma bolsa de estudos para Argélia, com a mesma intenção de se formar em Engenharia Civil, mas a maioria dos estudantes do seu grupo viria a desistir, dada às dificuldades na sociedade argelina de então, e em 1979, já na Praia, arranja uma bolsa para ir para o Porto, fazer Gestão e Técnica de Hotelaria e Turismo, que se tornou a sua profissão e mais tarde viria a fazer mestrado em Turismo Sustentável na Universidade de Las Palmas, em Gran-Canaria.

Quanto à sua juventude, José Pedro de Oliveira descreve que foi “turbulenta, mas saborosa”, porque, na altura, de contactos com pessoas mais idosas ligadas à luta para a libertação da Guiné e Cabo Verde, e a vida adulta tem sido também boa, dentro dos seus desejos. 

Falar em primeira pessoa é sempre a parte mais difícil, mas mesmo assim, Djopan se vê um cidadão correcto, mesmo na infância, juventude, até agora, nos anos já de cidadão “bem usado”.

“Também me vejo como alguém extremamente sociável e de fácil trato. Gosto de estar rodeado de amigos. Sempre fui obediente aos meus pais, mas rebelde em relação à autoridade dos meus irmãos, e mais tarde às regras sociais que nos impunham nos tempos de ausência da liberdade”, comentou Djopan, que é o mais novo dos nove irmãos, sete rapazes e duas meninas, filhos da mesma mãe e mesmo pai. 

Casado há quase 47 anos, com duas filhas e uma neta, hoje com 72 anos, disse que se o tempo voltasse para trás, teria o prazer de ter mais filhos, pois, recorda-se do quão bom e interessante era viver nessa comunhão de muitos irmãos e familiares.

A relação amorosa com a esposa, Quelinha, nasceu durante uma viagem, com a ajuda de dois cupidos, seus grandes amigos até hoje, mas não revelou os nomes, porque são pessoas bem conhecidas na sociedade. 

Agora nessa idade e fase de vida narra que a existência lhe tem ensinado muita coisa, tornando-se numa pessoa melhor, cada vez mais humano e respeitador dos outros com as suas diferenças.

“Sinto que cada vez mais me dou com os outros. A vida me ensinou a apreciar uma forma cada vez mais tranquila, cultivando a temperança em quase tudo o que faço. O não ofender, seja quem for, é uma forma de estar na vida que me tem dado equilíbrio, saúde também e, principalmente, um bom sono à noite. Eu durmo muito bem e com muita tranquilidade”, exteriorizou.

Assistir in loco à Revolução dos Cravos em 25 de Abril de 1974, em Lisboa, foi a história que mais marcou a vida dele, uma coisa do “outro mundo” para a sua geração.

A nível familiar, terá sido o nascimento da sua primeira filha, no dia em que estava marcado o casamento na Embaixada de Cabo Verde em Lisboa, que viria a ser adiado para 27 dias depois, entre vários outros episódios marcantes.

Mas também há uma em São Vicente, enquanto estudante, já no último ano, vivia numa casa arrendada com o senhor Joaquim Monteiro, aquele que se candidatou várias vezes a Presidente da República, e ele resolveu fabricar um pequeno alambique de cobre para fazer grogue de banana e foram denunciados como fabricantes de explosivos em São Vicente, que estavam a pôr a cidade do Mindelo em perigo.

E, um célebre dia, continua, uma comissão, constituída por um militar, um major português, o comandante dos bombeiros e o Procurador da República vai fazer uma vistoria à casa, que era de dois pisos.

“É claro que não encontraram nada, apenas uma cozinha onde estava esse pequeno alambique com uns tubos de ensaio. Mas no meu quarto havia uma casa de banho, fechei a porta, e saí levando a chave no bolso. Puseram dois policiais à minha procura em São Vicente, e não saíram de lá enquanto não chegasse, porque ficaram convencidos que ali dentro, estavam explosivos”, recordou entre risos.

“À noitinha, esses dois policiais encontraram-me aí perto do Telégrafo e levaram-me sob ameaças, eu sem saber porquê. Cheguei, o procurador pediu, gentilmente, para abrir a minha casa de banho e viram que não tinha nada. O homem ficou todo escandalizado, pedindo-me desculpas… Isto foi uma cena que me marcou imenso. Ter estado sob escolta policial, sem saber porquê”, reviveu.

Não teve muitas namoradas, comparado com os seus colegas, porque, conforme disse, nunca foi de excessos, mas um homem comedido, que até hoje gosta da noite.

“Ver os amigos da noite. É algo que me diz muito, mas sem ser boémio. Nunca toquei nenhum instrumento musical, mas gosto de chegar na Praia, por exemplo, e juntar-me aos amigos que tocam, fazer as tocatinas, passar a noite… acho que é algo que tem muito a ver com a minha identidade enquanto pessoa”, disse. 

Tem muitos amigos, dentro e fora do país, e em Brasília, onde está há quatro anos, uma das capitais do mundo que mais representações de embaixadas tem, com 141 embaixadores residentes, fez também muitas e boas amizades, o que o leva a ter uma vida social com “oxigénio”.

 “Não sou um homem da rotina, a rotina massacra-me. Eu sou o homem de mudanças, de saltitar. Adoro essa forma de estar na vida que eu tenho. Isto dá-me muita vitalidade. Cada dia, estou sempre a planificar, sempre sonhando”, exteriorizou, Djopan que disse gostar de cozinhar, sobretudo ,quando tem convidados amigos, também de passar as suas roupas a ferro, mas de lavar a louça já não tanto.

“Gosto imenso de cozinhar. Faço isso com muito prazer. A minha mulher diz que sujo muito a cozinhar. Digo sim, é preciso termos equipa… uns vão cozinhando, outros vão limpando”, conta entre risos, indicando que o seu forte é barbecue, fazer grelhados, sem esquecer o seu “famoso” arroz de pato.

SC/JMV

Inforpress/Fim

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