Telavive, 18 Set (Inforpress) – As forças armadas israelitas avisam que os civis palestinianos que permanecerem na cidade de Gaza “jamais serão um alvo”, mas ficarão em zonas de combate como escudos do Hamas e sujeitos “a pagar o preço da guerra”.
Em entrevista à agência Lusa em Telavive, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (FDI) Rafael Rozenszajn observa que os militares israelitas “conhecem muito bem o ‘modus operandi’” do grupo islamita palestiniano, sugerindo que não é um acaso que mantenha o seu principal reduto na cidade mais povoada da Faixa de Gaza.
O grupo islamita palestiniano cujo ataque a Israel em 2023 desencadeou a guerra na Faixa de Gaza usa os civis como “escudos humanos” nas suas “casas como pontos de lançamento de foguetes, nas escolas como centros de comando e nos hospitais para esconder armamento”, descreve o porta-voz em língua portuguesa das FDI.
Israel tem em curso uma vasta operação com o objetivo declarado de ocupar a cidade de Gaza, eliminar os radicais islamitas que governam o enclave palestiniano desde 2007 e recuperar os 48 reféns na sua posse há quase dois anos, dos quais se presume que 20 estejam vivos.
“Em nenhum momento, os civis serão alvo das FDI, todos os nossos alvos são militares e locais utilizados por terroristas. Mas infelizmente os civis pagam o preço da guerra, não porque são alvos, mas porque infelizmente são utilizados como escudos humanos”, frisa.
Até à noite de quarta-feira, segundo o major das FDI, as tropas israelitas controlavam cerca de 40% da capital do território, numa vasta operação militar que tem sido alvo de ampla contestação internacional, ao prever a deslocação forçada de perto de 900 mil dos habitantes.
Ao mesmo tempo, Rafael Rozenszajn indicou que 400 mil residentes já abandonaram a cidade, o que significa que cerca de meio milhão ainda permanecem na área de conflito, que deverá intensificar-se nos próximos dias.
“Os civis que não se retirarem da cidade de Gaza estarão em zona de combate”, adverte o porta-voz militar, num momento em que já começaram as operações terrestres com recurso a tanques, no âmbito do plano da ofensiva, iniciada com a tentativa de retirada da população.
“O que nós fazemos para minimizar danos aos civis? Mais de 150 mil ligações [telefónicas em árabe], que não eram chamadas automáticas, mais de nove milhões de panfletos foram lançados”, assinalou, “implorando para eles [civis] evacuarem essa zona perigosa que é a Cidade de Gaza”.
A unidade a que pertence o oficial das FDI tem cerca de 500 efetivos só para a área da comunicação, instalados num quartel militar em Telavive, a partir do qual são acompanhadas as missões no terreno em tempo real, numa sala de operações com telefones vermelhos encriptados e ligados ao centro de comando, e equipas em permanência para divulgar nas redes sociais os avisos de bombardeamento em locais e horas precisos.
Apesar disso, as autoridades locais do enclave, controladas pelo Hamas, dão conta de cerca de cem mortos até ao momento na operação terrestre na cidade de Gaza, a juntar aos mais de 64 mil desde o início do conflito, na maioria civis, números não confirmados pelos militares israelitas.
“Nós utilizamos inteligência precisa e armamentos cirúrgicos para minimizar danos a civis”, argumenta o porta-voz, acrescentando que, a par da criação de zonas e corredores humanitários, foram abortados “dezenas, talvez centenas de ataques aéreos, porque os civis apareceram de uma forma inesperada nas proximidades dos alvos”.
Ao longo da primeira fase da invasão da cidade de Gaza, “foi também desmantelada uma grande parte das infraestruturas utilizadas pelo Hamas”, segundo Rafael Rozenszajn, o que incluiu os ataques aos prédios altos, que as FDI justificam com a sua utilização como postos de vigilância dos combatentes palestinianos para atacar os soldados israelitas.
“Vamos continuar a atuar de forma gradual para garantir a saída de todos os civis da cidade de Gaza e também bem equilibrada para minimizar os riscos para os civis que estão lá e, logicamente, para os nossos reféns”, insistiu.
Os reféns têm sido o principal motivo de uma vaga de críticas em Israel, que surgem sobretudo do fórum constituído pelos seus familiares, que receiam que esta operação militar vá colocar as suas vidas em risco, o próprio comandante das FDI transmitiu a mesma inquietação às lideranças políticas.
No dia em que familiares dos reféns iniciaram um acampamento de protesto junto da residência do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, em Jerusalém, o porta-voz das FDI comenta que os militares acreditam que, ao desmantelar a capacidade do Hamas, serão criadas as condições necessárias para recuperar em segurança as pessoas em cativeiro, “seja através de um acordo, seja através de operações militares”.
O oficial das forças israelitas não antecipa quanto tempo poderá demorar esta ofensiva, “um processo gradual” até que os objetivos sejam alcançados.
Do mesmo modo, evita abordar a estimativa de baixas numa operação terrestre numa zona urbana e densa, que coloca novos desafios aos militares e igualmente receios dos seus familiares.
“Os riscos realmente são grandes, mas as nossas forças estão determinadas, estão preparadas, estão focadas na missão de alcançar os objetivos”, observa o major das FDI, adicionando que se trata de “uma guerra muito complexa, principalmente porque é assimétrica”, ao colocar em confronto “um Estado democrático de Direito e um grupo terrorista que não dá nenhum valor às normas internacionais”.
Perante a vaga de críticas internacionais e da acusação de genocídio em curso na Faixa de Gaza, apontada por um comité de peritos das Nações Unidas e por outras organizações, o porta-voz militar afasta que as tropas israelitas se sintam afetadas pela gravidade dos crimes contra a Humanidade que lhes são imputados.
Reafirma que os soldados estão totalmente preparados para o trabalho que têm pela frente, o que é explicado com a consciência de que estas operações “são necessárias para garantir o futuro existencial do Estado de Israel”.
Após os ataques do Hamas em 07 de outubro de 2023 em solo israelita, onde fizeram cerca de 1.200 mortos, na maioria civis, e 251 reféns, “muitos soldados estavam fora do país e voltaram para lutar” na ofensiva de retaliação que se seguiu na Faixa de Gaza, justamente por entenderem que está em jogo o futuro existencial” de Israel.
Inforpress/Lusa/Fim
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