Palanca negra gigante continua criticamente em perigo de extinção

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  Palanca negra gigante continua criticamente em perigo de extinção
18/09/25 - 01:21 pm

Luanda, 18 Set  (Inforpress) – A palanca negra gigante, símbolo nacional de Angola, continua na lista das espécies criticamente ameaçadas de extinção, sendo a caça furtiva a maior ameaça à sua sobrevivência, alertou hoje o coordenador do projeto dedicado à conservação da espécie.

 Pedro Vaz Pinto foi hoje um dos palestrantes da conferência “Fundação Kissama 30 Anos – Conservação, Investigação, Formação”, que decorre hoje e sexta-feira em Luanda, e lembrou que a palanca negra gigante – relativamente à qual se chegou a temer que estivesse extinta – atravessou desde a altura em que foi descoberta (1916) um século marcado por fases de caça descontrolada, períodos de guerra e pós-guerra devastadores, até às iniciativas de conservação mais recentes.

“A palanca negra gigante continua a ser uma espécie endémica e muito rara, que já esteve pior e a conservação tem vindo a melhorar, mas sem que isso signifique que está fora de perigo, não está de todo”, sublinhou.

Atualmente, estimou, a população ronda cerca de 300 animais, o que é pouco mais de 10% do que era há 50 anos.

“Portanto, nós temos de fazer mais”, disse.

Segundo o especialista, só quando a população atingir cerca de 500 exemplares será possível sair da categoria de “criticamente em perigo” para “em perigo”, nos critérios da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), o que levará pelo menos mais cinco a 10 anos.

Após décadas de declínio, em que chegou a ser considerada praticamente extinta, a espécie foi confirmada em 2005 no Parque Nacional da Cangandala, tendo sido implementado nos anos seguintes um programa de conservação "in situ".

Para tal, foi necessário ir buscar um macho à Reserva Natural Integral do Luando, construir um santuário vedado e esterilizar os híbridos que se tinham juntado à população de palancas negras gigantes.

A caça furtiva continua como a maior ameaça a este animal e um em cada quatro animais imobilizados pelos biólogos apresenta feridas de armadilhas, relatou Pedro Vaz Pinto, acrescentando que não se trata de uma questão de subsistência para as comunidades locais, mas de comércio lucrativo, já que a carne seca é posteriormente vendida nos mercados.

O responsável acredita que o combate à caça depende de fiscalização mais eficaz, sendo necessários mais recursos humanos, meios materiais e apoio das entidades judiciais para que os caçadores sejam punidos.

A palanca negra gigante só existe em duas áreas de Angola, ambas na província de Malanje: o Parque Nacional da Cangandala e a Reserva Natural Integral do Luando. Segundo Vaz Pinto, a sobrevivência da espécie depende de um ordenamento mais rigoroso e de gestão adequada dos parques que pressupõe zonas de conservação com regras claras.

Para o especialista, só assim será possível conciliar a conservação com o crescimento populacional e o desenvolvimento económico

Pedro Vaz Pinto destacou a importância tornar a palanca acessível ao público angolano e desenvolver o ecoturismo.

“Um parque nacional é também um museu natural. Eu acho que era fundamental, e acho que era uma questão de orgulho nacional também, nós podermos mostrar a palanca a todos os angolanos. Gostava que as escolas de Malanje, os deputados, os ministros, todos, pudessem ver a palanca”, disse.

O investigador sublinhou ainda que os parques naturais não são sustentados apenas pelas receitas das entradas, devendo ser valorizado o impacto económico mais amplo do turismo de natureza.

“Tem que ser nessa forma holística que tem que ser pensada essa questão dos parques”, complementou.

A Fundação Kissama (FK) é uma organização não-governamental criada em 1995 para promoção da defesa, proteção e conservação da fauna e flora angolana.

Ligada ao Projeto de Conservação da Palanca Negra Gigante, a fundação é implementadora das ações de investigação e educação ambiental do projeto desde 2010.

A conferência reúne especialistas nacionais e internacionais, académicos, organizações da sociedade civil e representantes de instituições públicas ligadas à gestão ambiental, para debater os desafios e as soluções para a conservação da biodiversidade em Angola.

Inforpress/Lusa/Fim

 

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