Cidade da Praia, 02 Set (Inforpress) – A curadora do Praia Hub da Comunidade Global Shapers, Néliciete Tavares, afirmou hoje que os jovens cabo-verdianos têm potencial para ser agentes de transformação social, defendendo maior compromisso cívico, voluntariado genuíno e participação crítica.
Em entrevista à Inforpress, a jovem explicou que a comunidade é uma iniciativa do Fórum Económico Mundial criada em 2011 para formar jovens líderes comprometidos com a transformação social, visando desenvolver projectos de impacto alinhados com os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
“Temos a missão de criar jovens líderes com foco em missão social (…), o objectivo deste encontro é discutir a pauta internacional, geopolítica, questões climáticas e problemas que os representantes de cada hub estão a ver nos seus países”, sublinhou.
Segundo explicou, Cabo Verde conta actualmente apenas com o Praia Hub, sendo os que hubs são representações locais da rede distribuídas por cidades em vários países e lideradas por curadores, equivalentes a presidentes, integrando ao todo 508 hubs em 127 países e funcionando como representações locais em diferentes cidades.
Todos os anos realizam o Global Shapers Annual Summit, encontro que reúne estes representantes.
A actual curadoria pretende expandir a rede para outras ilhas, acreditando no potencial de inovação e impacto social da juventude cabo-verdiana.
Néliciete Tavares e mais duas jovens cabo-verdianas curadoras dos hubs de London e Paris representaram Cabo Verde no Global Shapers Annual Summit 2025, evento que decorreu de 9 a 11 de Julho deste ano em Genebra, Suíça e reuniu 508 curadores da rede.
Para a representante, essa participação mostra que os jovens do país podem alcançar impacto global.
“(…) E para o cenário de jovens cabo-verdianos, eu gosto de destacar isto, de modo que os jovens que temos aqui percebam que, caso tenham a necessidade de sair do país, conseguem fazer serem notados, de terem impacto realmente fora dos seus países”, afirmou, destacando que o encontro serviu para discutir perspectivas que precisam ser mudadas.
O regresso a Cabo Verde coincidiu com a recente catástrofe em São Vicente, situação que evidenciou e que demonstra que o país ainda não tem uma preparação comunitária comparável a outros contextos internacionais.
A jovem destacou que o voluntariado deve ser visto como dedicação à comunidade e não apenas como elemento curricular ou de autopromoção.
“Serviço voluntário não é um capricho para ser adicionado no currículo, o serviço voluntário não é um capricho para se colocar no destaque do Instagram, o serviço voluntário é com amor à comunidade”, frisou.
Adiantou ainda que, no caso de São Vicente, a multiplicação de iniciativas individuais gerou mais disputa do que coordenação.
Por isso, o Praia Hub pretende avançar com projectos de capacitação para situações de catástrofe, orientando a população sobre doações correctas, difusão de informações fiáveis e formas de agir em momentos de risco.
“O clima de Cabo Verde segue padrões de chuvas intensas, mas nunca vi um projecto que fizesse preparação anual para moradores. É preciso dar passos e apostar em educação e consciencialização”, reforçou.
Questionada sobre os principais obstáculos para a implementação dos projectos, a curadora apontou a escassez de financiamento e falhas na comunicação institucional, tendo reconhecido que existem fundos governamentais, mas que a informação nem sempre chega de forma equitativa a todos.
“As oportunidades circulam sempre nos mesmos grupos. Falha a comunicação e falta empenho de muitos jovens, que ficam à espera que as coisas simplesmente aconteçam”, observou.
Defendeu ainda que a juventude precisa compreender que política e partido não são a mesma coisa.
“É possível fazer política cívica, ser agente de mudança e promover transformações de mentalidade sem estar ligado a um partido”, sustentou.
A curadoria do Praia Hub iniciou funções oficialmente a 01 de Julho, após comunicação formal do Fórum Económico Mundial, e prevê-se brevemente uma cerimónia simbólica de passagem entre antigos e novos membros.
Durante este ano de liderança, a curadora pretende estimular a participação juvenil, desenvolver acções de voluntariado estruturado e sensibilizar a sociedade cabo-verdiana para a preparação comunitária em situações de risco.
KA/AV/JMV
Inforpress/Fim
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