***Por Sidneia Newton, da Agência Inforpress***
Mindelo, 16 Ago (Inforpress) - Os moradores da zona da Ribeirinha (debaixo de “Jon Debra”) ainda esperam pelo resgate, pela esperança e bonança após a tempestade que lhes entrou casa adentro sem pedir licença e levou tudo o que encontrou pela frente.
A tempestade da segunda-feira, 11, em São Vicente, que deixou marcas por toda a ilha, expôs a fragilidade de algumas residências, principalmente das casas de tambor construídas nos terrenos inclinados.
A peixeira Aline Lima estava sozinha, na madrugada da tempestade, quando a lama entrou pelo rodapé da sua casa e levou-lhes parte dos seus pertences, inclusive soterrando chapas e paletes que tinha no quintal para o projecto de ampliação do lar construído no terreno ilegalmente. Mãe 4 filhos e sem possibilidades de trabalhar no momento, pede auxílio para poder sobreviver.
“Precisamos de alimento porque neste momento não conseguimos ir à “morada” [centro da cidade] tirar um dia de trabalho”, alertou a peixeira à Inforpress, enquanto mostrava os pertences na rua cheios de lama.
Esta cidadã, que teme regressar à casa e haver nova chuva, espera que a ajuda para reconstruir a casa, mas que desta vez seja construída uma parede que proteja a residência de novos deslizamentos de terra.
Já o jovem de 34 anos Ivanilson Rodrigues ficou sem possibilidade de pensar em regressar à casa. O espaço que chamava de lar hoje encontra-se toda tomada pela terra, as paredes de chapa não suportaram o “peso” da tempestade e da lama e ruíram.
Conta que o que lhe salvou a vida foi ter ido deitar com a porta do quarto aberta.
“Se a porta não estivesse aberta a terra esmagaria a mim e ao meu irmão e se demorássemos um segundo, morreríamos lá dentro”, frisou o jovem, acrescentando ter perdido tudo o que tinha, e que não pôde sair nem com a roupa do corpo, pois correu só de boxer.
Diz-se aliviado pela filha de 13 anos não estar em casa quando tudo aconteceu, mas espera que a ajuda chegue logo, visto estar a viver de favores em casa de familiares.
“Gostaria de construir desta vez de blocos para que o mesmo não volte a acontecer”, enfatizou.
A casa e os pertences não foram as únicas perdas do jovem que diz ter perdido o tio por electrocução enquanto caminhava na rua, no dia seguinte às chuvas.
O recenseamento realizado em 2021, pelo Instituto Nacional de Estatística, identificou em São Vicente, dos 23.976 edifícios recenseados, 1750 (7,3%) edifícios considerados "não clássicos", como os feitos de lata, bidom ou contentores. Este valor corresponde a mais de metade do valor contabilizado deste tipo de edifícios em todo o país (2977), no mesmo recenseamento.
No entanto, a “fúria da natureza” não atingiu apenas casas de tambor.
Na mesma zona e vizinha da ribanceira, a moradora da casa de blocos Vera Alves queixa-se da enxurrada de lama, trazida pela chuva e aponta o dedo à construção da estrada que liga a zona de Espia à praia de João Évora, e que “deixou muita terra solta, sem uma tela de proteção”.
“Não estava em São Vicente, mas minha casa ficou destruída de lama, em todos os cômodos e até mesmo no local onde fazia minhas vendas”, frisou a pasteleira, que regressou de Santo Antão, onde passava as férias, logo na manhã do dia seguinte ao ocorrido.
Esta pede que seja construída uma parede que sirva de barreira da água das chuvas, entre a estrada e as casas na ribanceira para que a vida da família não fique em causa, à mercê da chuva.
SN/JMV
Inforpress/fim
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