
Cidade da Praia, 30 Set (Inforpress) – A Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) lança esta quarta-feira, 30, traduções “Dos Armu” em crioulo de Santiago do romance de Germano Almeida, e Prinsizinh, em crioulo de São Nicolau de Le Petit Prince, de Antoine de Saint-Exupéry.
A sessão, organizada pelo Direcção do Serviço de Documentação e Edições (SDE) em parceria com os tradutores, constitui um momento de valorização das variedades do crioulo e de promoção da leitura tanto em contextos académicos como comunitários.
O romance Dos Armun, publicado em 2019, é traduzido por Nicolas Quint e Aires Semedo para a variedade de Santiago. A obra, já consolidada no espaço lusófono e adaptada ao cinema, marca a estreia dos tradutores na versão de um romance nacional para o crioulo.
A apresentação ficará a cargo da professora e escritora Augusta Évora (Mana Guta), especialista na literatura de Germano Almeida.
Já Prinsizinh resulta da tradução de Le Petit Prince para a variedade de São Nicolau, realizada por Rosa da Luz Morais e Nicolas Quint. 
A obra soma-se à tradução existente em crioulo de Santiago, reforçando o contributo para a valorização das variantes da língua. O escritor Jeff Lopes (N’Gossi Nelly) fará a apresentação.
Em declarações hoje à Inforpress, Germano Almeida afirmou que vê com naturalidade a tradução da sua obra para diferentes variedades.
“Pessoalmente acredito que um dia teremos um único crioulo, mas não é para já, nem há pressa. Isto é uma coisa que o próprio tempo fará acontecer. Por enquanto, traduzir livros no crioulo de cada ilha é importante, e aceitei perfeitamente que `Dos Armun` fosse traduzido para a variedade de Santiago.
Quem quiser traduzir qualquer livro meu para qualquer dos dialetos de Cabo Verde, não tem nenhuma redundância”, disse.
Sobre a questão da identidade linguística, o escritor sublinhou que estas traduções ajudam sobretudo a reforçar a identidade nacional.
“A identidade linguística em Cabo Verde está definida há muito tempo e não está em causa. Qualquer referência que tenhamos de uma ilha ou outra, todos nós nos entendemos em crioulo”, observou.
Questionado sobre a discussão em torno do livro de Língua e Cultura Cabo-verdiana do 10.º ano, escrito numa só variante, admitiu não ter acompanhado de perto o debate, mas deixou uma nota crítica.
“Na minha opinião, todas as partes excederam-se, porque não se pode discutir um tema de tanto interesse nacional com tanta paixão. Mas não tenho formação nessa matéria, por isso escuso-me de ter opinião”, avaliou.
Germano Almeida afirmou que o caminho da literatura em crioulo ainda é longo, porque as pessoas não leem na língua, mas destacou que as novas gerações estão a aprender o crioulo na escola e, por isso, começarão a ler em crioulo.
Reconheceu que a sua geração lê pouco nesta língua, mas acredita que as futuras gerações o farão com muito mais frequência, podendo existir uma literatura em português e outra em crioulo, como acontece no País Basco, em Espanha.
A tradução das duas obras enquadra-se na estratégia do SDE de reforçar a edição e circulação de obras em língua cabo-verdiana, projectando a Uni-CV como agente de difusão cultural e de preservação da diversidade linguística.
TC/ZS
Inforpress/Fim
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