Por Sidneia Newton, da Agência Inforpress
Mindelo, 02 Set (Inforpress) – A população da localidade agrícola da Ribeira do Calhau ainda tenta se levantar depois da tempestade que destruiu cinco casas, terrenos aráveis e assoreou dez poços, mas os agricultores temem por uma seca ainda mais severa.
A estrada antes cortada já foi coberta de terra e já é possível atravessar de carro para a localidade da Ribeira do Calhau de onde costumava chegar parte dos produtos que abastecem os mercados da ilha.
Hoje, falta água e terra para suportar o cultivo e a esperança dos homens da terra, os quais, segundo o presidente da Associação Agropecuária do Calhau, Eder Rodrigues, contam com apoios para se reerguerem.
"Nos 45 terrenos que fizemos levantamento, os poços estavam todos cheios de lama e a água não dava nem para darmos aos animais, e tivemos que recorrer à nascente do Madeiral para darmos vazão à necessidade da população", concretizou a mesma fonte.
Eder Rodrigues considerou ainda que o problema de água irá persistir já que os lençóis freáticos não foram alimentados.
A associação constituída por 75 membros já recebeu ajuda do Ministério da Agricultura e Ambinete e empresas produtoras de ração, a Ordem dos Veterinários disponibilizou carros de água para os animais e apoio do estrangeiro através de campanhas realizadas em parceria com o coletivo Neve Insular. três Três semanas após a tempestade Erin, ainda contabilizam a proporção dos estragos.
"Houve quem perdeu toda a horta, houve quem perdeu toda a criação de animais, há lugares onde não ficou nem evidências que havia casa, perdemos muito terreno que era arável", frisou Eder Rodrigues.
Segundo o presidente, havia “no mínimo 45 hortas em produção mapeadas”, pelo que está a ser feito o levantamento para se saber quantas restaram.
Um dos agricultores da localidade é António Fortes que viu a sua plantação destruída pela força das águas, e, apesar de reconhecer que a “natureza é imprevisível”, acusa as autoridades de abandono da localidade, o que considera ter provocado os danos no Calhau.
"Se tivessem feito uma limpeza dos diques e das condutas, não haveria tantos estragos", considerou o agricultor, que perdeu toda plantação que ficava na ribeira e a terra que cultivava, que foi carregada pela enxurrada.
Conseguiu escapar apenas os animais que se encontravam num “local seguro”.
Este, por um lado teme que chova novamente com a mesma intensidade, antes que os trabalhos de desassoreamento sejam feitos, mas também que a seca, que perspetiva, traga consequências mais graves.
Por isso, defende uma aposta numa estrutura de dessalinizada de água na localidade de Palha Carga.
O agricultor Francisco Fortes, por seu lado, teve problemas com a horta, com a estrutura da casa e com os produtos que eram comercializados pela mulher no mercado da Praça Estrela.
Onde costumava plantar já enfrentava problemas com o poço que secou, agora os problemas são acrescidos.
"Não era algo que esperávamos, uma chuva bastante horrível, veio para destruir", considerou o agricultor.
Não pretende abandonar o ofício ensinado pelo pai, mas perspectiva dificuldades no futuro.
Os estragos por toda a ilha com a passagem da tempestade Erin fizeram o Governo declarar situação de calamidade por seis meses em São Vicente, Porto Novo (Santo Antão) e nos dois concelhos de São Nicolau.
Além disso, foi anunciado um plano estratégico de resposta que contempla apoios de emergência às famílias, mas também às atividades económicas, com linhas de crédito com juros bonificados e verbas a fundo perdido, justificando a decisão com o "quadro dramático, excecional".
A câmara municipal de São Vicente disponibilizou um pacote de medidas em cerca de 150 mil contos para apoiar os afetados.
O Governo utilizará os recursos do Fundo Nacional de Emergência, criado em 2019 para responder a situações de catástrofes naturais ou impacto de choques económicos externos.
SN/AA
Inforpress/Fim
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