*** Por Luís Carvalho, da Agência Inforpress ***
Cidade da Praia, 04 Out (Inforpress) – A primeira Fazenda da Esperança Feminina era para ser instalada em São Jorginho, na cidade da Praia, mas este sonho do padre Ronaldo de Lima não se concretizou, porque a cedência daquele espaço não saiu do papel.
O complexo, localizado a cerca de cinco quilómetros da capital, foi cedido, em regime definitivo, pelo governo para a instalação da primeira casa de acolhimento e recuperação das mulheres com problemas do alcoolismo e droga, mas não saiu do papel, porque as pessoas que ali se instalaram ilegalmente se recusam a abandonar o lugar.
Depois da publicação no Boletim Oficial, através da Portaria nº 21/2022, sobre a cedência a título “definitivo e gratuito” do terreno, medindo uma área de mais de 328 mil metros quadrados, o padre Ronaldo esperou durante dois anos para tomar a posse do referido espaço.
Pelo menos algumas vezes visitou São Jorginho para falar com as pessoas que ali se instalaram, tendo sido “destratado” pelas mesmas.
Foi-lhe sugerido entrar com uma acção no Tribunal, a fim de os ocupantes ilegais de São Jorginho serem despejados, mas recusa-se a fazer isso.
“Não vim para Cabo Verde para entrar no tribunal contra ninguém”, vincou o padre Ronaldo, acrescentando que a sua missão no país é ajudar as pessoas na recuperação das suas vidas.
A sua experiência no Brasil tem-lhe revelado que a Fazenda da Esperança Feminina requer um outro tipo de tratamento para as pessoas.
“As mulheres são mais delicadas e têm feridas mais profundas do que os homens”, admitiu a fonte da Inforpress.
Segundo ele, por exemplo, se uma jovem chegar grávida para fazer o tratamento, mesmo assim, a instituição vai acolhê-la.
“Vamos oferecer todos os meios para que ela tenha uma gestação saudável, para que ela não queira abortar e tenha o seu filho com toda a dignidade”, apontou o padre Ronaldo.
Entretanto, se a mulher já é mãe e tem filhos menores, a Fazenda acolhe-a com os seus descendentes para não os separar.
“Tínhamos pensado que São Jorginho teria espaço para tudo isso, mas infelizmente não foi possível”, lamentou.
“Estava sonhando para ser um espaço também para adolescentes, porque nós estamos sendo muito procurados por famílias e até instituições ligadas ao governo, pedindo ajuda para acolher menores”, acentuou o padre Ronaldo, lamentando que Cabo Verde não tenha um sítio de ressocialização para menores.
Na sua perspectiva, o Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) dispõe do espaço Orlando Pantera, mas, sublinhou, “é praticamente uma cadeia de menores, sem um ambiente de acolher, reeducar, ressocializar e recuperar adolescentes”.
“O governo, de facto, nos repassou aquele espaço em papel, em documento, mas São Jorginho foi invadido por pessoas que há anos estão lá e não querem sair”, lamentou o missionário, revelando que foi “destratado” pelos ocupantes durante as tentativas de diálogo.
Quer dizer, foram ameaçados? Perguntou o jornalista, ao que o missionário respondeu: “Não diria ameaçados, porque é muito constrangedor falar de certas coisas, mas não foi uma situação boa. Verbalmente, nós fomos mesmo destratados e nós falamos na altura com o governo para resolver essa situação de que deveriam se mexer para tirar as pessoas de lá [São Jorginho] mas não sei o que houve. Nada aconteceu.
“Se o Estado achar por bem falar com as pessoas e retirá-las de lá e entregar-nos não apenas o documento, então vamos planejar e desenvolver outras actividades que são necessárias para o país”, sugeriu o missionário.
São Jorginho, pontuou o padre Ronaldo, seria excelente. “Até mesmo para iniciar ali uma casa de apoio a deficientes mentais que me tem preocupado muito [devido] a quantidade que se verifica na nas ruas da cidade da Praia”.
Como disse à Inforpress, não veio a Cabo Verde à procura de terra e, por isso, para não perder o financiamento garantido por uma instituição francesa, solicitou ao bispo de Santiago, Dom Arlindo Furtado, um tracto de terreno nas imediações da Cadeia Central de São Martinho para a construção do primeiro espaço de acolhimento feminino.
Conforme informou, a construção decorre a “bom ritmo”, estando a sua inauguração prevista para Janeiro.
Estava a ser pressionado pela instituição que financiou a construção da Casa das Meninas a prestar contas, mas o dinheiro ainda não tinha sido gasto, porque estava à espera de assumir São Jorginho, que “não foi liberado”.
Para não perder o financiamento da referida instituição francesa, a Diocese de Santiago, mais uma vez, disponibilizou um novo terreno, nas imediações da Cadeia Central de São Martinho, na Praia.
“E lá começamos a construção. Mais uma vez o dinheiro não era suficiente, então algumas pessoas começaram a ajudar e a obra está indo para frente”, indicou Ronaldo de Lima.
Perguntado como gostaria que fosse lembrado quando terminar a sua missão em Cabo Verde, o padre respondeu dizendo: “Eu acho que não é preciso ser lembrado, porque a obra é de Deus. O padre Ronaldo é apenas um instrumento de Deus para fazer a obra acontecer aqui. Agora, obviamente que gostaria eu, de uma vez sendo transferido, que tivesse a continuidade, com a mesma vida e a mesma pujança”.
LC//CP
Inforpress/Fim
Partilhar