*** Lucilene Fernandes Salomão, da Agência Inforpress ***
Pontinha de Janela, Paul, 27 Mai (Inforpress) – Há meses que a água deixou de correr nas torneiras de Pontinha de Janela, no interior do Paul, entre baldes, garrafões e lágrimas, as famílias lutam pela sobrevivência e pedem uma resposta “urgente” para um sofrimento “ignorado”.
A cada dia que passa, a esperança míngua e a rotina dos moradores gira agora em torno de horários incertos, tanques vazios e contas que continuam a chegar, mesmo sem uma gota de água a sair das torneiras.
“Estamos a viver uma situação difícil (…) uma dor diária. Há meses que lidamos com esta falta de água. Não conseguimos cozinhar, lavar roupa, tomar banho. Vivemos com garrafões e esperança, mas a esperança já se esgota”, desabafou Armindo da Luz, morador da localidade.
Nas zonas mais elevadas da comunidade, o drama intensifica-se.
“Nem um pingo. Quando muito, um fio de azeite que não dá sequer para encher um balde. E mesmo assim, a fatura continua a vir. Duas vezes por mês. Ar nas torneiras, contas avultadas para pagar”, denunciou.
Os moradores de Pontinha de Janela dizem que se sentem “abandonados, desrespeitados e enganados”.
“Estamos a pagar por uma água que não temos. Em Janeiro recebi uma fatura de 33 toneladas. Como é possível? O meu consumo nunca passou de cinco. E nesse mês, nem sequer consegui usar uma tonelada”, reforçou.
A indignação cresce entre vizinhos que, além da escassez, enfrentam o peso da desigualdade no próprio abastecimento.
Alguns conseguem armazenar um pouco de água quando esta, por sorte, aparece.
Outros, simplesmente, não veem água há semanas e Manuel Andrade é um desses casos.
“Já nem me lembro da última vez que vi água nas torneiras. O concelho do Paul tem água a correr para o mar todo o ano, mas aqui vivemos como se estivéssemos num deserto. Os nossos idosos andam com baldes à cabeça. Isto não é vida”, lamentou.
O morador recordou que antes da gestão da empresa Águas de Santo Antão (AdSA) a situação era diferente.
“Havia problemas, sim, mas nunca vivemos tanto tempo sem água. Desde que passou para a empresa, tem sido um sufoco constante”, enfatizou.
A revolta é partilhada por Maria do Livramento Andrade, mãe de filhos pequenos.
“Há quase dois meses que não temos água. Tenho vergonha de mostrar a casa de banho. Trabalho em Penedo de Janela e, todos os dias, levo uma botija de 10 litros para conseguir trazer água para casa. Em casa, a prioridade é para os meus filhos. Eu faço a minha higiene quando chego ao trabalho”, pontuou.
Mais revoltante ainda, explicou a mesma fonte, é viver mesmo ao lado do tanque de abastecimento da comunidade.
“A água está ali, a poucos metros. Mas não chega à minha casa. Ninguém quer saber de nós”, lamentou.
Os moradores garantem ter feito múltiplas reclamações junto da empresa responsável.
A informação que receberam aponta para um problema numa conduta e a necessidade de substituição de válvulas, mas até agora nenhuma intervenção foi realizada e o problema persiste.
A Inforpress tentou, por diversas vias, contactar os responsáveis da empresa Águas de Santo Antão para obter esclarecimentos sobre a situação.
Contudo, até ao fecho desta reportagem não foi possível obter qualquer resposta.
LFS/AA
Inforpress/Fim
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