Reclusos da Cadeia Central da Praia recebem livros para incentivar leitura e reinserção social (c/áudio)

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Reclusos da Cadeia Central da Praia recebem livros para incentivar leitura e reinserção social (c/áudio)
16/05/25 - 06:06 pm

Cidade da Praia, 16 Mai (Inforpress) - A Cadeia Central da Praia acolheu hoje uma cerimónia simbólica de entrega de mais de 200 livros, no quadro do projecto “Tell Me Story”, promovido pela Associação Cabo-Verdiana dos Alumni dos Estados Unidos da América (ACA-EUA).

A acção, realizada em parceria com a Embaixada dos EUA em Cabo Verde, visa fomentar o gosto pela leitura e criar novas pontes para a reinserção social dos reclusos.

O evento enquadra-se no programa de apresentação dos novos jovens cabo-verdianos seleccionados para o Mandela Washington Fellowship 2025, uma das componentes da Iniciativa para Jovens Líderes Africanos (YALI).

Durante a cerimónia, o director adjunto da Cadeia Central da Praia, Cláudio Tavares, deixou uma mensagem de encorajamento e responsabilidade aos reclusos, apelando à valorização do tempo e do conhecimento como instrumentos de transformação.

“A reclusão não é o fim de tudo, como muitos pensam, mas sim uma oportunidade de um novo começo. Vocês têm tempo, algo que muitos lá fora não têm, e devem aproveitá-lo ao máximo. A escola e os livros estão aqui como aliados. O conhecimento é a chave que abre todas as portas”, afirmou.

Em nome da Embaixada dos EUA, Bruno Azevedo, representante e coordenador do projecto, reforçou que esta acção se insere num compromisso mais alargado com o desenvolvimento humano, mesmo dentro das estruturas prisionais.

“Respondemos ao pedido com quatro caixas contendo mais de 200 livros, cobrindo diversas áreas do saber. São best-sellers que, acreditamos, trarão grande valor aos leitores. Acreditamos que esta acção deve ser contínua, e é essencial mantermos este trabalho com os reclusos”, defendeu.

Também presente no acto, Nersea Delgado, representante da ACA, destacou o potencial transformador da leitura, sobretudo em contextos de privação de liberdade.

“O livro tem uma força silenciosa: não julga, não condena, apenas acolhe. É um abraço em silêncio. Ler é uma forma de liberdade. E ninguém é definido apenas pelo seu passado”, declarou.

Em declaração exclusiva à Inforpress, a psicóloga clínica Ronísia Santos, da área de Serviço Social da Cadeia, sublinhou a relevância da iniciativa, especialmente face às limitações pedagógicas existentes nas estruturas prisionais.

“Temos estudantes e formandos aqui, mas nem sempre o material didáctico está disponível. Os livros ajudam a colmatar essa falha e oferecem aos reclusos a possibilidade de novas viagens, através da imaginação e da reflexão”, referiu.

Djamam, recluso há cinco anos e responsável pela biblioteca da Cadeia Central da Praia, testemunhou em primeira pessoa o impacto directo que esta doação pode ter no quotidiano dos internos.

“Muitos de nós temos tempo, mas não temos o que fazer. Ler na cela ajuda muito. Esses livros vão complementar as aulas que temos e permitir que, ao sair, possamos ter um currículo mais completo. Os reclusos estão a interessar-se por livros de psicologia, história, romance… e isso vai ajudar a mudar mentalidades”, partilhou.

O projecto “Tell Me Story” tem como missão usar a leitura como ferramenta de inclusão e desenvolvimento pessoal. Além da doação de livros, contempla oficinas criativas de escrita e sessões de leitura, promovendo momentos de introspecção e aprendizagem.

Desde a sua criação, em 2014, o Mandela Washington Fellowship já capacitou mais de 7.200 jovens líderes africanos, entre os quais diversos cabo-verdianos, através de formações académicas, experiências de liderança e oportunidades de networking nos Estados Unidos da América.

Dados mais recentes, de 2023, estimam a população prisional cabo-verdiana em 2.086, um aumento de 33% em relação ao censo de 2018, que apontava 1.567 reclusos. A Cadeia Central da Praia é a que mais sofre com a superlotação, estando a albergar mais do dobro da sua capacidade.

KA/SR/ZS

Inforpress/Fim

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