Padre Francisco Sanches estreia-se na literatura com o livro em crioulo para “valorizar a identidade cultural”

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Padre Francisco Sanches estreia-se na literatura com o livro em crioulo para “valorizar a identidade cultural”
21/08/25 - 01:28 pm

Cidade da Praia, 21 Ago (Inforpress) - O padre Francisco Sanches lança no sábado, 23, no Salão Paroquial de São Domingos, o seu primeiro livro “Speransa y Amor na Paraízu Sukundidu”, um romance escrito maioritariamente em crioulo para “valorizar a identidade cultural”.

Conforme contou à Inforpress, o título “Speransa y Amor na Paraízu Sukundidu” (Esperança e amor no paraíso escondido, em português) tem “um grande significado, porque resume a obra em si.

Todo o seu desenrolar, continuou a fonte, “fala da questão da esperança, da questão do amor, valores que cada vez mais estão a faltar na sociedade”.

Com 11 capítulos, o romance cruza narrativas, leituras e poemas e percorre dimensões como a imigração, a morte, a fé, a cultura, a história e o quotidiano cabo-verdiano, sobretudo no interior da ilha de Santiago.

“Quis recuperar vivências que desapareceram, como contar histórias no final do dia, em que havia sempre uma ligação moral, e ao mesmo tempo mostrar as lutas diárias das pessoas que procuram uma vida digna sem esquecer as suas raízes”, afirmou o autor.

Grande parte da obra está escrita em língua cabo-verdiana, incluindo expressões antigas já em desuso, como “benca” (venha cá), “purba” (provar), “ndémo gó” (por exemplo).

O objectivo do uso dessas expressões, segundo explicou, é contribuir para a elevação da língua materna, recuperar palavras que ficaram esquecidas e mostrar que o crioulo é uma língua autónoma e independente.

Ainda acrescentou que algumas expressões são explicadas em notas de rodapé para que todos compreendam.

Apesar da predominância do crioulo, há também poemas e testemunhos em português, como o relato de um pastor da ilha Brava, usado para transmitir uma mensagem de união.

“Quis demonstrar que, para além das diferenças religiosas, o essencial é respeitar o outro, porque o amor supera todos os obstáculos”, sublinhou.

O processo de escrita foi longo e difícil, tendo levado 12 anos, como revelou o escritor, que deixou evidente que “enfrentou desafios grandes”, desde a falta de apoio moral à exigência de escrever em crioulo, língua que, para tal, “não tem regras ortográficas claras”.

“Escrevia e revia várias vezes a mesma palavra para garantir consistência (…), mas valeu a pena, porque quero dar o meu contributo para valorizar a nossa identidade e língua”, disse.

A escolha de São Domingos para o lançamento não é por acaso.

“Foi aqui que concluí a obra, ao longo dos 12 anos em que estive nesta paróquia. Como vou ser transferido, é também uma forma de gratidão e de despedida”, referiu o padre, natural da Lagoa, concelho do Tarrafal.

Quanto ao futuro, Francisco Sanches já tem três projectos, um social e espiritual, uma obra infantil para recuperar valores de educação tradicional e outro livro sobre direitos humanos e direitos dos emigrantes.

Para já, a prioridade é partilhar a estreia do livro com os leitores.

“Espero receber críticas, positivas ou negativas, porque o escritor deve estar aberto (…), mas, sobretudo desejo que as pessoas saboreiem a obra e encontrem nela a sua própria história”, concluiu o autor.

KF/LC//AA

Inforpress/Fim

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