Investigadora critica parecer da DALMA-PT sobre manual de língua cabo-verdiana e defende debate científico (c/áudio)

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Investigadora critica parecer da DALMA-PT sobre manual de língua cabo-verdiana e defende debate científico (c/áudio)
20/08/25 - 05:15 pm

Cidade da Praia, 19 Ago (Inforpress) – A investigadora em Linguística na Universidade de Lisboa, Fernanda Pratas, criticou hoje o parecer técnico emitido recentemente pela Delegação da Associação da Língua Materna Portuguesa, DALMA-PT sobre o manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana do 10.º ano.

Em entrevista à Inforpress, Fernanda Pratas esclareceu que o parecer produzido pelo grupo “ad hoc” da DALMA-PT e elaborado à margem da DALMA-CV carece de fundamentação científica rigorosa, contestando o facto de os autores se basearem em opiniões privadas, sem apresentar qualquer estudo comparativo ou referência a trabalhos científicos sobre aspectos cognitivos, sociais e identitários da ortografia.

Um dos pontos mais contestados pela investigadora é a ênfase do parecer na “transparência” do sistema ortográfico, argumento que, na sua opinião, não encontra respaldo nas outras línguas como Inglês e Francês.

“Quando vamos ler obras sérias, pode usar “séria” por oposição ao que elas fizeram, quando vamos ler obras sérias sobre ortografia, esta questão da transparência é logo posta de parte”, defendeu, criticando ainda a ausência de citações e a falta de rigor no documento.

Disse que na língua inglesa, existem exemplos de palavras de sílabas que são escritas de maneira completamente diferente e são pronunciadas da mesma forma e, o contrário, palavras que são escritas de maneira idêntica e que são pronunciadas de forma diferente.

“Por exemplo, Britain e written dizem-se basicamente da mesma maneira, quando pensamos na maneira como são escritas, são escritas de forma totalmente diferente”, ilustrou.

Fernanda Pratas questionou ainda a proposta da DALMA-PT de criar versões bidialetais do manual, o que implicaria a aceitação de duas normas ortográficas distintas para o arquipélago.

“Vamos assumir que há duas línguas diferentes em Cabo Verde?  Portanto, vão assumir que vamos ter tudo isso separado. Vamos no Barlavento escrever de uma maneira e no Sotavento escrever da outra e assumir que são duas línguas diferentes. É isto?”, indagou.

Para a investigadora, o debate sobre a ortografia cabo-verdiana deve ser pautado por “rigor e fundamentação científica” e envolver amplamente a comunidade linguística, educativa e científica, para que a política linguística contribua, efectivamente, para o reconhecimento identitário e a valorização cultural do país.

No entender de Fernanda Pratas, o parecer baseia-se apenas em opiniões privadas e ultrapassadas, expressas por pessoas sem publicações sobre este tópico que tenham sido sujeitas a uma rigorosa e independente revisão por pares.

O resultado, afirmou, é um conjunto de observações incorrectas, algumas com implicações éticas inadmissíveis.

A Comissão Científica da DALMA-CV, em Portugal, exigiu “ajustes urgentes” no Manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana, defendendo que quaisquer definições ortográficas devem ser conduzidas com “rigor e fundamentação científica”.

No seu parecer técnico emitido no dia 04 de Agosto, sobre o manual, recomendou o abandono da "norma pandialectal" e a adopção de uma abordagem multidialectal, que valorize as diferentes variantes da língua.

A comissão diz reconhecer o valor da iniciativa para valorizar a língua cabo-verdiana no sistema educativo, mas aponta “fragilidades significativas” de ordem pedagógica, linguística e sociolinguística.

LT/HF

Inforpress/Fim

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