Fogo: Projecto Reduce estuda capturas acidentais para impulsionar conservação da megafauna marinha

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Fogo: Projecto Reduce estuda capturas acidentais para impulsionar conservação da megafauna marinha
19/10/25 - 10:34 am

São Filipe, 19 Out (Inforpress) - O projecto Reduce, financiado pela União Europeia, está a ser implementado para estudar e mitigar a captura acidental da pesca industrial na megafauna marinha ameaçada de extinção no Atlântico Centro-Ocidental.

O coordenador do projecto, Jacob González-Solís, que participou na IV Conferência da Década do Oceano, disse que o objectivo do projecto é estudar e mitigar as capturas acidentais, conhecidas como "bycatch" de espécies como aves marinhas, tubarões, raias, cetáceos e tartarugas no Atlântico Centro-Ocidental, com foco especial nos países da região, incluindo Cabo Verde.

Com um financiamento de nove milhões de euros e duração prevista de quatro anos, o Reduce reúne 13 parceiros de países europeus, como Espanha, Portugal, França e Reino Unido, e instituições como o PRCM (Senegal), o BirdLife Dakar e outras organizações africanas da região, que trabalham na conservação das espécies marinhas.

Um dos principais objectivos do Reduce é a implementação de sistemas electrónicos de monitorização nos navios de pesca industrial que operam nas águas de Cabo Verde, como os “palangreiros espanhóis” e que usam sistema de pesca conhecido de “palangre”.

Trata-se de um tipo de aparelho de pesca muito utilizado e que consiste numa longa linha principal, chamada de "cabo-mãe", na qual são presas, a intervalos regulares, várias linhas secundárias menores, designadas estralhos" ou "anzóis".

Os sistemas electrónicos, segundo Jacob González-Solís, utilizam múltiplas câmaras instaladas em pontos estratégicos dos barcos para registrar as espécies capturadas, tanto as espécies-alvo como as acessórias e acidentais.

As imagens captadas são analisadas de forma autónoma e eficiente por algoritmos de inteligência artificial e aprendizagem profunda, capazes de identificar automaticamente os eventos de “bycatch” e as espécies envolvidas. 

Este avanço tecnológico, segundo a mesma fonte, permite uma monitorização “mais precisa e eficiente”, contribuindo para a obtenção de dados científicos fundamentais.

Outro objectivo do Reduce é avaliar o risco de captura acidental e os impactos populacionais nas espécies marinhas.

Para isso, os pesquisadores combinam o rastreamento de animais marinhos com os dados de localização das embarcações industriais, que são monitoradas por meio do Sistema de Identificação Automática (AIS).

Essa abordagem possibilita a criação de mapas de risco que indicam onde e quando a fauna marinha está mais vulnerável às capturas.

Além disso, o projecto investiga a mortalidade pós-captura, ou seja, a taxa de sobrevivência de animais devolvidos ao mar após a captura acidental.

Trata-se de um “aspecto essencial” para compreender o real impacto da pesca industrial sobre espécies ameaçadas.

Como soluções práticas, o Reduce está a testar tecnologias de mitigação de “bycatch”, como o “hookpot”, uma cápsula que protege o anzol até atingir profundidades seguras, evitando capturas acidentais de aves e tartarugas durante a descida do equipamento.

O projecto aposta ainda em acções de comunicação, engajamento com pescadores e políticas públicas, visando a transferência do conhecimento científico para práticas e regulações que promovam uma pesca mais sustentável.

“Este é um projeto ambicioso que aborda o problema do ‘bycatch’ de forma abrangente. Estamos no meio do caminho, mas já com avanços significativos na coleta de dados e no desenvolvimento de soluções práticas”, afirmou Jacob González-Solís, coordenador geral do Reduce.

Segundo o mesmo, o projecto representa uma “oportunidade histórica” para harmonizar a actividade pesqueira com a conservação da biodiversidade marinha e abrir caminho para práticas de “pesca sustentáveis e uma economia azul próspera”.

Com a colaboração internacional e o uso inovador da tecnologia, a expectativa é que os resultados do Reduce contribuam para políticas mais eficazes e duradouras na protecção da vida marinha no Atlântico Centro-Ocidental.

JR/AA

Inforpress/Fim

 

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