Fogo: Festa do Queijo quer resgatar tradição do "buli" como alternativa à proibição do uso do plástico

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Fogo: Festa do Queijo quer resgatar tradição do "buli" como alternativa à proibição do uso do plástico
14/07/25 - 09:16 am

São Filipe, 14 Jul (Inforpress) – A quarta edição da Festa do Queijo, organizada pela Associação Ka Djidja, tem como novidade a introdução do concurso “maior buli de leti” como forma de resgatar o seu uso como alternativa ao plástico. 

O presidente da associação Ka Djidja, Pedro Matos, disse que com a introdução do concurso do "maior buli di leti" (maior cabaça de leite, em português) pretende resgatar o "buli" como alternativa ao plástico, mas também como fonte de rendimento sustentável para as famílias.

"Uma das novidades da edição deste ano é o resgate do ‘buli’, a tradicional cabaça, como símbolo cultural e solução ecológica", disse Pedro Matos que acrescentou que com a proibição da importação, produção e comercialização de plásticos desde 2023, o uso de materiais alternativos, como o sisal e a própria cabaça, constituem substitutos naturais por serem biodegradáveis e culturalmente relevantes.

O sisal tem diversas formas em que pode ser transformado em cestos, cordas, sacolas e a cabaça substitui “sustentável e organicamente muito bem o plástico” porque é biodegradável e pode gerar renda para comunidades rurais afectadas pelas mudanças climáticas e para seu cultivo pode-se usar até águas residuais, o que a torna “ainda mais valiosa”. 

Além da sua função tradicional de armazenar o leite, o “buli” ou cabaça pode ser utilizado para arte e decoração e os artesãos podem criar peças artesanais e utensílios domésticos que poderiam abastecer grandes resorts nas ilhas do Sal, Boa Vista e mesmo Santiago.

Isto porque, explicou Pedro Matos, a partir de cabaça pode-se confeccionar luminária, recipientes para colocar frutas e saladas.

“No mundo rural o ‘buli’ não era simplesmente uma questão da cultura, mas de refrigeração e em áreas onde se pode perder o leite rapidamente, conseguia conservar esse leite para outro dia”, afirmou.

Outra novidade da quarta edição da Festa do Queijo é a realização de uma formação técnica especializada em testes de mastite, uma inflamação das glândulas mamárias que compromete a qualidade do leite.

A capacitação será feita directamente nos currais da comunidade, um desafio logístico, mas uma demanda antiga dos criadores e que promete revolucionar a produção artesanal e impulsionar a economia rural.

A formação técnica sobre testes de mastite, segundo Pedro Matos, está programada para hoje e pela primeira vez, os produtores terão acesso a equipamentos especializados, como a "caneca de fundo preto", importada de Portugal, e que permite analisar a qualidade do leite com precisão, eliminando impurezas invisíveis a olho nu.

"Antes, confiávamos na observação manual durante a ordenha, mas com o teste teremos dados confiáveis para garantir um leite seguro e queijos de alta qualidade", explicou Pedro Matos.

A mesma fonte sublinhou que a associação planeia, após a formação, viabilizar a aquisição dos kits para os criadores locais.

Segundo o mesmo, a aquisição deste equipamento é um desafio e uma demanda porque nem todos os dias tem-se a confiança no leite para a produção de queijo, mas salientou que é fundamental ter os equipamentos para a segurança do leite e do queijo.

Além das duas novidades e no quadro da Festa do Queijo será ministrada uma formação para diversificação de produtos, nomeadamente a transformação do leite e queijos em doces e sobremesas.

Como explicou Pedro Matos, a ideia é dar continuidade ao projecto de empoderamento feminino iniciado na edição anterior e que incluirá oficinas para transformar leite, soro e queijo em doces de maior duração e valor acrescentado.

"Doces têm mais alcance de mercado e ajudam a reduzir desperdícios", ressaltou Pedro Matos, que sublinhou que a iniciativa visa ampliar a renda de mulheres rurais, aproveitando ingredientes locais como o leite, queijo e o soro.

JR/AA

Inforpress/Fim

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