Cidade da Praia, 04 Ago (Inforpress) - A Comissão Científica da DALMA-CV em Portugal exige “ajustes urgentes” no Manual de Língua e Cultura Cabo-Verdiana, defendendo que quaisquer definições ortográficas devem ser conduzidas com “rigor e fundamentação científica”.
No seu parecer técnico sobre o manual, destinado a alunos do 10.º ano, enviado hoje à Inforpress, a Comissão Científica da Delegação da Associação da Língua Materna Cabo-Verdiana (DALMA-CV) recomenda o abandono da "norma pandialetal" e a adoção de uma abordagem multidialetal, que valorize as diferentes variantes da língua.
O parecer sugere ainda a realização de estudos experimentais robustos e uma "ampla consulta à comunidade linguística, educativa e científica".
Entre as recomendações da comissão constam formação contínua de professores, com preparação específica em crioulística, didática da língua, ortografia com base no Alfabetu Kabuverdianu, gestão da variação linguística em sala de aula e o desenvolvimento de materiais didáticos complementares, como dicionários, guias para professores e recursos lúdicos.
A produção de versões do manual em múltiplas variantes linguísticas para promover o diálogo intercultural e a avaliação sistemática da experiência piloto, com recolha de dados junto de docentes e alunos para melhorias constantes, são outras recomendações.
A comissão diz reconhecer o valor da iniciativa para valorizar a língua cabo-verdiana no sistema educativo, mas aponta “fragilidades significativas” de ordem pedagógica, linguística e sociolinguística.
O parecer alerta que o manual apresenta conteúdos e terminologia “desajustados” para o perfil linguístico e do percurso escolar dos alunos do 10.º ano.
Um dos pontos mais controversos, segundo a comissão, é a introdução, a título experimental, de uma forma de escrita inédita e que se apresenta como “norma”.
“Presume-se que, com esta 'norma', se procure neutralizar as divergências entre as variedades das diferentes ilhas de Barlavento e de Sotavento, escolhendo representações gráficas de aparente compromisso”, esclarece, avançando que propõe uma interação autor-aluno de uma escrita que desconhecem.
A Comissão Científica reforça que o ensino da língua materna deve ser conduzido com rigor científico e ampla participação comunitária, garantindo que a política linguística contribua efectivamente para o reconhecimento identitário e a valorização cultural do país.
Afinal, assevera, a adoção prematura da escrita 'pandialetal', sem validação científica, didática e social, pode comprometer os objectivos da política linguística e educativa.
As críticas da DALMA-CV juntam-se às do escritor cabo-verdiano José Luiz Tavares, que apresentou no dia 24 de Julho, uma queixa na Procuradoria-Geral da República (PGR) para suspender o manual, classificando-o como uma “aberração linguística” e a norma pandialetal como uma “antinorma”.
Em resposta, o Ministério da Educação esclareceu, em comunicado, que o manual “é experimental”, conforme o decreto-lei que introduziu a disciplina como opcional e em fase de construção pedagógica.
O ministério afirmou que irá proceder aos ajustes que se mostrarem adequados", e considerou que "não faz muito sentido judicializar esta questão".
LT/CP
Inforpress/Fim
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