Carlos Veiga confessa que entrou na lista do partido único a pedido do Presidente Aristides Pereira (c/vídeo)

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Carlos Veiga confessa que entrou na lista do partido único a pedido do Presidente Aristides Pereira (c/vídeo)
12/08/25 - 04:30 pm

*** Por Luís Carvalho, Agência Inforpress ***

Cidade da Praia, 12 Ago (Inforpress) – O antigo deputado eleito nas listas do PAICV, Carlos Veiga, confessou que entrou na lista do partido único a pedido do Presidente Aristides Pereira porque, na altura, o PAICV encontrou uma “meia-solução” para uma pequena abertura à sociedade civil.

Em entrevista exclusiva à Inforpress, por ocasião dos 50 anos da independência de Cabo Verde, Veiga revela que a sua condição de deputado contribuiu também para “conhecer melhor o comportamento cabo-verdiano, digamos assim, o terreno”.

Admite que a pequena abertura feita à sociedade civil permitiu fazer reuniões nos diversos locais de trabalho e nos locais de habitação para que as pessoas indicassem possíveis nomes para as listas únicas. Isso foi feito e ao longo dessas reuniões vários nomes foram apontados pelas plateias.

Nomes como de Carlos Veiga, Eurico Correia Monteiro, Emanuel Mário Vigano Antunes (Caré), Carlos Albertino Veiga, Tomé Varela da Silva apareceram sempre. 

“Entretanto, o sistema estava montado para que na fase final houvesse uma selecção”, revelou Veiga, acrescentando que, quando se viu o resultado final, “praticamente ninguém desses que tinham sido apontados e que não eram do aparelho partidário, foram aceites”.

“Então, Aristides Pereira chamou-nos lá, eu fui um dos que foi lá chamado, estive com ele e disse-me que não estava contente porque tinha feito tudo para que as listas tivessem pessoas da sociedade civil e que estava a verificar naquele momento que tinham retirado todos os indicados pela sociedade civil”, frisou a fonte da Inforpress.

Entretanto, o então Presidente da República prometeu-lhe que ia alterar as coisas, perguntando-lhe se estava disposto a entrar na lista, ao que respondeu que sim.

“Eu disse que estava interessado, porque como advogado, passei por algumas situações de confrontar os serviços de segurança pelas acções que levavam a cabo, inclusivamente não respeitavam, por exemplo, os magistrados do Ministério Público”, acentuou Carlos Veiga.

Veiga revelou que o procurador em Santa Catarina foi ameaçado de prisão porque não quis libertar um preso que estava sob a tutela dele e ameaçaram-no “quase que de prisão se ele não desse a segurança”.

Na qualidade de procurador-geral da República, insurgiu-se contra este tipo de comportamento, o que o levou a dizer ao Presidente da República e ao primeiro-ministro que não queria continuar como PGR, porque, salientou, “havia esses problemas de desarticulação e, portanto, não estava para isso”.

Na altura, prossegue Carlos Veiga, o Instituto do Patrocínio e Assistência Judiciários (IPAJ) estava a ser muito crítico, “precisamente pelas agressões que havia, pela violação dos direitos dos presos e nós exprimimos isso publicamente e fomos até muito insultados por isso”.

Enquanto deputado, tinha a ideia de que talvez se fizesse alguma pressão de dentro, alguma coisa se poderia conseguir.

“Inicialmente funcionou, nós conseguimos passar leis, como a lei da associação. A única restrição que acabaram por nos pôr foi que não podia abranger associações políticas, mas a lei foi aprovada”, recordou.

“Nós conseguimos passar o estatuto dos advogados, portanto, dos prestadores de serviço de consultoria jurídica e de defesa jurídica, defesa judiciária, conseguimos passar, mas a partir daí não conseguimos”, queixa-se Carlos Veiga.

Para Veiga, o então presidente da Assembleia Nacional, Abílio Duarte, estava de acordo que o Parlamento devia ser o centro do poder.

Entretanto, segundo ele, a partir de certa altura as coisas que o grupo tinha acordado antes não conseguiram passar.

“Chegámos à conclusão de que já não havia hipótese de mexer por dentro com as coisas”, indicou, ajuntando que o grupo contava com o apoio de outros que eram do sistema.

“Mas a certa altura, aquele que estava ao meu lado, dizia: ‘Veiga, agora, tu tens que ir sozinho porque eu já fui chamado, sou militante, não posso’”.

Carlos Veiga não se deslumbra com o facto de ser considerado o rosto da democracia cabo-verdiana.

“Eu é que apareci nas fotografias. Fui líder do MpD, primeiro como seu coordenador provisório”, assinalou o primeiro presidente do Movimento para a Democracia.

Perguntado se se considera um reformado da política, depois de todo seu percurso neste sector, responde: “Não, não me considero reformado na política, mas eu acho que cada um tem o seu tempo e é preciso renovar”.

“Nós conseguimos fazer muita coisa porque tínhamos muita gente nova connosco e foi isso que permitiu que nós, enfim, tivéssemos um bom programa do MpD, que é, praticamente, um programa de Governo”, avançou Veiga, concluindo que tinham uma ideia clara do que poderiam fazer.

LC/HF

Inforpress/Fim

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