
Sal Rei, 27 Set (Inforpress) – A morna, enquanto Património Cultural Imaterial da Humanidade, deve ser gerida como um produto turístico estratégico, exigindo investimento em educação e infra-estruturas, concluíram esta sexta-feira especialistas e participantes em conversa Aberta na Boa Vista.
O debate que culminou na noite de 26 de Setembro, foi realizado no âmbito da Semana da Morna 2025, focou-se no tema “O percurso evolutivo da morna na afirmação da identidade cultural nacional e a sua potencialidade enquanto produto turístico”, e contou com as intervenções do sociólogo César Monteiro e do antropólogo e mestre em Património do IPC, Martinho Brito.
Martinho Brito destacou que a morna já é consumida pelos turistas, mas que a sua divulgação está confinada, na maioria, aos hotéis, sem o devido contexto cultural, defendendo que enquanto produto turístico, a morna deve ser "estudada", e que os artistas que a interpretam para o público estrangeiro devem estar “preparados” para a contextualizar.
O painelista do IPC detalhou elementos do Plano de Salvaguarda da Morna, que inclui a urgência de levar o estudo do género para o plano curricular das escolas e a necessidade de criar espaços de memória, na Boa Vista, Brava e Tarrafal, realçando a importância de investir em infra-estruturas para sustentar a experiência turística.
A conversa abordou o papel do Governo central e local na salvaguarda e promoção, tendo sido consensual que "não é vocação da câmara municipal produzir, mas tem de criar condições para produzir", como facilitador investindo em infra-estruturas, escolas de música e plataformas de estudo, permitindo que os artistas e a sociedade civil desenvolvam o produto.
César Monteiro, por sua vez, destacou a importância de aceitar a evolução não linear da morna, pedindo que não se exija aos jovens “compor como os antigos”, afirmando existir sim um interesse da nova geração que traz uma "outra vivencia e leitura" ao género, garantindo a sua continuidade.
As intervenções do público reforçaram as lacunas institucionais e a necessidade de proatividade.
A munícipe Iva Rosário apontou a necessidade de traduzir a morna para outros idiomas para aumentar a acessibilidade e o registo da sua evolução, lamentando que o género não esteja nas escolas.
Já o agente cultural Eliseu Almeida lançou um apelo à responsabilidade colectiva, de que a sociedade civil não tem de esperar por instituições, e que se muitos vêm para Boa Vista é porque “alguma coisa há”, afirmando existir mercado para todos”, e incentivando o empreendedorismo cultural a "tirar proveito" do activo Morna.
Do evento ficou a compromisso da elaboração de um memorando com as conclusões essenciais, visando apoiar as decisões e acções dos poderes central e local na gestão e promoção do Património.
A conversa aberta foi seguida da tradicional Serenata da Semana da Morna, que nesta edição tinha passagem obrigatória pela casa dos familiares de Herculano Vieira, o músico e combatente da Liberdade da Pátria homenageado deste ano.
MGL/HF
Inforpress/Fim
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