Baixos indicadores económicos prejudicam liberdade dos media em África - RSF

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Baixos indicadores económicos prejudicam liberdade dos media em África - RSF
02/05/25 - 07:48 am

Lisboa, 02 Mai (Inforpress) - Baixos indicadores económicos em África, a concentração de proprietários de meios de comunicação social e a pressão dos agentes publicitários prejudicam e comprometem a independência jornalística no continente, consideram os Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

Segundo o "Índice Mundial da Liberdade de Imprensa 2025 dos RSF", a "liberdade de imprensa está a sofrer um declínio preocupante em muitos países africanos".

De uma forma geral, a região registou "o maior número de países com indicadores económicos em declínio, uma vez que 80% [dos países] viram os seus resultados económicos baixar", indicaram os RSF.

Assim, segundo explicaram, "em muitos casos", os meios de comunicação social estão concentrados em grupos privados "próximos dos detentores do poder e de indivíduos com interesses públicos", o que "compromete a independência editorial das redações".

Consequentemente, de acordo com a Organização Não-Governamental (ONG), esta concentração de propriedade é "particularmente notória em países como a Nigéria (122.º lugar no ranking), a Serra Leoa (em 56.º lugar) e os Camarões (131.º lugar).

No relatório é frisado ainda que a conjuntura dos media em África é agravada pela dependência das receitas publicitárias, que "geralmente provêm dos orçamentos de comunicação do Estado e das grandes empresas, como se verifica no Benim (92.º lugar) e no Togo (121.º lugar)".

Essa realidade, na opinião dos RSF, pode levar as redações a "autocensurarem-se por receio de perderem financiamento".

Por exemplo, no Quénia (em 117.º lugar no ranking), a empresa de telecomunicações Safaricom retirou os seus anúncios do The Nation depois de o jornal ter exposto o papel da empresa na vigilância das comunicações dos cidadãos.

Na análise da ONG, o setor dos media é também enfraquecido "pela falta de subsídios públicos consistentes e transparentes" e a ajuda governamental "é rara ou mal distribuída".

No Senegal (em 74.º lugar), país vizinho da Guiné-Bissau, as reformas governamentais "deram prioridade a maior transparência das ajudas públicas aos meios de comunicação social, embora os jornalistas argumentem que as medidas propostas podem agravar a intensificação das inspeções fiscais e a suspensão dos contratos de publicidade com entidades públicas", exemplificaram os RSF no relatório.

Na região do Sahel, o epicentro do terrorismo no mundo, a "deterioração da situação de segurança afeta diretamente a viabilidade económica dos meios de comunicação social", indicaram.

No Burkina Faso (105.º lugar) e no Mali (119.º lugar) alguns media suspenderam as suas atividades e os trabalhadores foram forçados ao exílio.

Jornalistas críticos das autoridades burquinenses foram recrutados para o exército, o que reitera o clima de opressão na imprensa, frisaram os RSF, que destacam ainda a República Democrática do Congo (133.º lugar), nação vizinha de Angola, um país onde "dezenas de estações de rádio fecharam e muitos jornalistas estão deslocados - e, consequentemente, desempregados".

Além dos desafios de segurança, a ONG aponta que "as pesadas medidas judiciais e administrativas também afetam gravemente a saúde financeira dos meios de comunicação social".

Em vários países africanos, as autoridades recorrem ao sistema judicial, ou a organismos estatais reguladores, para sancionar os media.

Os países africanos com pior classificação no índice são o Uganda (143.º), a Etiópia (145.º lugar) e o Ruanda (146.º lugar), que passaram este ano para a categoria "muito grave", e a Eritreia, que detém "o triste recorde das mais longas detenções de jornalistas no mundo", permanece em último lugar.

Em contrapartida, os países africanos melhor classificados são "a África do Sul (27.º lugar), a Namíbia (28.º lugar), Cabo Verde (30.º lugar) e o Gabão (41.º lugar).

O documento, que contém a análise de 180 países, concluiu que o estado global da liberdade de imprensa é agora classificado como uma "situação difícil" pela primeira vez na história do índice.

Inforpress/Lusa

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