
Cidade da Praia, 15 Nov (Inforpress) – O Presidente da República defendeu a necessidade de integrar a medicina tradicional no Sistema Nacional de Saúde, considerando que podem complementar as estratégias de prevenção, promoção da saúde e cuidados continuados, sobretudo quando articuladas com a cobertura universal.
José Maria Neves intervinha na abertura do encontro sobre medicina tradicional em Cabo Verde, promovido pela Associação Cabo-verdiana de Medicina Tradicional Africana e Práticas Complementares (MeTrA-PraC), tendo destacado que a integração destas práticas não deve ser vista como um regresso ao passado ou como uma simples fusão de saberes.
Para o Chefe de Estado, trata-se de reconhecer um património imaterial profundamente enraizado nas comunidades africanas e que deve ser estudado, valorizado e potenciado.
Nesse sentido, lançou um desafio à comunidade académica e científica para que investigue este “riquíssimo universo” com curiosidade e mente aberta, sublinhando que a ciência tem um papel central na validação e promoção segura do saber ancestral.
“Os nossos decisores políticos e governantes africanos incito a que tenhamos a coragem de legislar, de investir e de integrar, pois a saúde dos nossos povos e a soberania das nossas nações também dependem da nossa capacidade de valorizar o que é nosso”, referiu.
Dirigindo-se aos terapeutas tradicionais, que considera “guardiões da herança”, deixou uma palavra de reconhecimento, classificando o seu conhecimento como “a pedra angular” de todo o processo de integração.
José Maria Neves lembrou que a medicina tradicional africana constitui um sistema holístico de saberes, práticas e crenças que procura o equilíbrio entre o indivíduo, a comunidade e o ambiente.
Trata-se de um património transmitido oralmente ao longo de gerações e que reflecte a profunda ligação espiritual e ecológica do continente.
Em Cabo Verde, destacou, este conhecimento manifesta-se nos quintais e mercados, através do uso de plantas medicinais que continuam a ser, para muitas comunidades, o primeiro e mais acessível recurso de saúde.
O Chefe de Estado defendeu que um sistema de saúde verdadeiramente integrado é aquele em que médicos e terapeutas tradicionais possam dialogar, referenciar pacientes e combinar “o melhor de dois mundos” em prol do cidadão.
Para tal, considera “essencial” criar percursos de formação e certificação, reforçar a articulação entre centros de saúde e praticantes tradicionais e instituir mecanismos de vigilância partilhada.
Sublinhou igualmente que a integração exige políticas públicas que combatam desigualdades de género, assegurando espaço para as vozes das mulheres, frequentemente detentoras de grande parte deste conhecimento comunitário.
José Maria Neves alertou ainda para o risco de erosão cultural, lembrando que muitos jovens se distanciam das práticas ancestrais, e reforçou a importância de transmitir este legado às novas gerações.
Para finalizar, apontou a experiência da República Popular da China como um exemplo de integração bem-sucedida.
AV/ZS
Inforpress/Fim
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