São Filipe, 10 Out (Inforpress) – O biólogo e activista ambiental Herculano Dinis, da Associação Projecto Vitó, apresentou hoje a proposta para criação de área protegida marítima entre as ilhas do Fogo e Brava, no quadro da IV Conferência sobre a Década do Oceano.
O objectivo da proposta é preservar os ecossistemas marinhos únicos da região e promover o desenvolvimento sustentável das comunidades costeiras e surgiu na sequência de uma década de investigação científica, monitorização ambiental e envolvimento directo das comunidades locais.
Segundo Herculano Dinis, director executivo da Associação Projecto Vitó, trata-se de uma proposta muito bem elaborada para a criação de uma nova área protegida marítima entre as ilhas do Fogo e Brava.
A proposta inclui não apenas o espaço marítimo entre as ilhas, mas também os Ilhéus do Rombo e a montanha submarina de Cadamosto, totalizando cerca de 10 mil quilómetros quadrados, disse Herculano Dinis.
A nível terrestre, sugere-se ainda a criação do Parque Natural da ilha Brava, nas imediações de Fajã d´Água, cobrindo uma área de 17, 53 quilómetros quadrados e duas reservas naturais.
O proponente lembrou que actualmente a Brava é a única ilha do arquipélago sem uma área protegida terrestre.
“Esta proposta não surgiu do nada. É o resultado de quase 10 anos de trabalho científico, técnico e comunitário, realizado com instituições nacionais e internacionais especializadas em conservação”, destacou Herculano Dinis, acrescentando que o estudo envolveu o levantamento de dados sobre aves marinhas, megafauna (tubarões, raias, golfinhos e baleias), pesca, tartarugas marinhas, répteis terrestres e flora endémica.
Segundo o biólogo, apenas na ilha Brava já foram identificadas quase 800 espécies, muitas das quais constam da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da UICN e a área marinha proposta também abriga centenas de espécies vulneráveis.
A iniciativa visa responder a vários desafios de conservação enfrentados pela região, incluindo a necessidade de regular a pesca artesanal, garantir meios de subsistência sustentáveis para as comunidades locais, e criar condições para monitorização contínua da biodiversidade.
Além disso, a proposta garante o envolvimento directo dos municípios e das populações na gestão dos recursos naturais.
“Cumprimos rigorosamente os requisitos definidos no decreto-lei que permite à sociedade civil apresentar propostas de áreas protegidas. Recolhemos cartas de apoio das comunidades e autoridades locais, e conseguimos quase 500 assinaturas, representando cerca de 10% da população da ilha Brava”, explicou Herculano Dinis.
Agora, a proposta está sob avaliação do Governo, que decidirá se dará seguimento à sua implementação.
Para Herculano Dinis, a expectativa é positiva, tendo em conta os compromissos assumidos por Cabo Verde em convenções internacionais como a Convenção da Biodiversidade, a Convenção do Clima e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Agenda 2030).
“Com esta proposta, Cabo Verde passaria de 0,4% para 1,4% do seu território protegido. Ainda é pouco, já que o objectivo é chegar a 30%. Mas é um passo importante, e sabemos que há outras ilhas com propostas semelhantes já submetidas. As ONG locais estão a fazer um trabalho extraordinário”, disse.
Herculano Dinis afirmou que, caso a proposta seja aceite, o foco será garantir uma gestão eficaz e participativa, com modelos adaptados às realidades locais e em estreita articulação com o Governo e a sociedade civil.
“Estamos orgulhosos e ansiosos para receber o feedback do governo e adaptar e ajustar aquilo que tem de ser ajustado para continuar a contribuir para a conservação em Cabo Verde que é a nossa principal missão”, rematou o director executivo da Associação Projecto Vito.
JR/JMV
Inforpress/Fim
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