Cidade da Praia, 24 Jul (Inforpress) - O presidente do conselho de administração da seguradora IMPAR, Luís Vasconcelos, recordou hoje, por ocasião dos 10 anos do falecimento de Corsino Fortes, o legado do poeta enquanto fundador da instituição, ao lado de Augusto Vasconcelos Lopes.
“A faceta principal é dele enquanto um dos fundadores do Grupo IMPAR. A ideia inicial da fundação partiu de duas pessoas: Corsino Fortes e Augusto Vasconcelos Lopes. E é o que eu chamo de construção de uma utopia, porque, em 1992, sonhar que cabo-verdianos poderiam ousar assumir as rédeas de uma instituição financeira era, de facto, um verdadeiro acto de ousadia, uma utopia”, explicou.
Segundo Luís Vasconcelos, a criação do Grupo IMPAR representou “uma luta de David contra Golias, 0 contra 100”, e marcou o início de um percurso que levaria à consolidação do grupo que é hoje uma referência no sector financeiro nacional.
O presidente da seguradora destacou ainda que, mesmo tendo a actividade seguradora sido o primeiro sector a ser aberto à iniciativa privada, Corsino Fortes rapidamente vislumbrou um objectivo maior.
“Primeiro foi a actividade seguradora, mas logo assim que houve a abertura do sector bancário ele pensou que tínhamos de criar um grupo financeiro de matriz cabo-verdiano, e esse sonho acabou por se realizar”, ressaltou.
Actualmente, frisou, o Grupo ÍMPAR não só lidera no sector segurador, como detém 90% do capital do BCN, banco que já é o terceiro maior do país e que foi recentemente eleito pela revista internacional International Bankers como o melhor banco comercial de Cabo Verde.
“Tudo isso se deve à visão de dois homens: Augusto Vasconcelos Lopes e Corsino Fortes, mas sobretudo à visão de Corsino na constituição de um grupo financeiro de raiz nacional”, frisou.
O Presidente da República, José Maria Neves, numa mensagem lida pelo chefe da Casa Civil, Avelino Lopes, durante a homenagem promovida pela Ímpar, evocou a memória de Corsino Fortes como uma das figuras maiores da cultura, da diplomacia e da identidade cabo-verdiana.
Além do contributo literário, Corsino Fortes desempenhou um papel pioneiro na diplomacia de Cabo Verde, inaugurando a representação do país em Lisboa logo após a independência e representando a nação em vários países europeus e africanos.
Como embaixador, foi responsável por importantes iniciativas como a aquisição das instalações actuais da Embaixada em Lisboa, demonstrando visão e sentido de futuro.
Na política, Corsino ocupou cargos de relevo, como secretário de Estado da Comunicação Social e ministro da Justiça, e foi fundamental na criação da televisão nacional e na consolidação das instituições em tempos de transição democrática.
Passados dez anos da sua partida, José Maria Neves reafirma que o seu nome e obra continuam a iluminar o caminho de Cabo Verde, inspirando a nação a seguir construindo o futuro com os valores de liberdade, resistência e inovação que ele tão bem representou.
Por seu lado, a escritora Simone Caputo Gomes, que se encontra em Cabo Verde para prestar homenagem a Corsino Fortes, destacou a grandeza da obra e da personalidade do autor.
Durante a homenagem, a escritora debruçou-se especialmente sobre “A Cabeça Calva de Deus”, obra épica que, segundo avançou, traça a trajetória dos primeiros 50 anos de Cabo Verde, desde o tempo do fascismo colonial até uma projeção futurista, deixada em aberto no último livro de Corsino.
Para Simone Caputo Gomes, o diferencial poético de Corsino Fortes reside na forma como conjugava a rebeldia literária com a militância, num equilíbrio entre inovação estética e compromisso político.
“Ele constrói uma epopeia com todos os elementos clássicos, proposição, cantos, dedicatória, o herói, mas rompe com a estrutura tradicional, inclusive na disposição dos poemas na página”, explica, sublinhando o seu respeito pelos clássicos aliado a um espírito profundamente inovador.
TC/JMV
Inforpress/Fim
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