Independência/50 Anos: O Último voo da ponte aérea - memórias de partida na véspera da independência de Cabo Verde

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Independência/50 Anos: O Último voo da ponte aérea - memórias de partida na véspera da independência de Cabo Verde
04/07/25 - 08:36 pm

Espargos, 04 de Jul (Inforpress) – No dia 04 de Julho de 1975, na véspera da independência de Cabo Verde, um voo da TAP Air Portugal marcou o fim de uma era e o início de um novo capítulo para milhares de famílias cabo-verdianas. 

Este foi o último voo da ponte aérea que ligava as ilhas cabo-verdianas a Lisboa e aos Açores, um “elo vital” e, para muitos, uma “tábua de salvação”, conforme as palavras do jornalista e investigador Ildo Rocha Ramos Fortes.

A migração sempre foi uma realidade intrínseca à história de Cabo Verde, impulsionada por factores como a seca persistente, a escassez de recursos e a busca por oportunidades que as ilhas não podiam oferecer. 

A decisão de partir era um misto de esperança e sacrifício, com muitos pais e mães deixando para trás suas famílias em busca de trabalho e estabilidade em Portugal ou nas comunidades cabo-verdianas já estabelecidas nos Açores.

O impacto dessa migração foi profundo e multifacetado. Por um lado, as remessas de dinheiro enviadas pelos emigrantes foram e continuam a ser um pilar fundamental da economia cabo-verdiana; por outro, a separação familiar gerou desafios emocionais complexos.

Portugal, especialmente Lisboa, tornou-se um destino primário, oferecendo oportunidades de emprego em sectores como a construção civil, serviços e manufatura. Os Açores também atraíram um número significativo de cabo-verdianos, que ali encontraram trabalho na agricultura e serviços marítimos, construindo comunidades com fortes laços culturais com o arquipélago natal.

O último voo da TAP simbolizou não apenas o fim de uma conexão directa, mas também a transição para uma nova era, em que Cabo Verde, como nação soberana, começaria a moldar o seu próprio destino.

O legado da ponte aérea e da migração permanece vivo na memória colectiva e na diáspora cabo-verdiana espalhada pelo mundo.

O jornalista Ildo Rocha Ramos Fortes ressalta a importância de preservar essa memória.

Segundo o mesmo, a iniciativa de revisitar essa data surgiu após vários estudos e discussões com personalidades cabo-verdianas, culminando em acções socioculturais para evocar o dia 4 de julho de 1975, data da partida do último voo da TAP que fez a Ponte Aérea Sal – Lisboa com trabalhadores transferidos e suas famílias.

Hoje, João Rodrigues, de 94 anos, um dos homens que deixou a ilha do Sal há precisamente 50 anos, na véspera da independência, partindo nesse último voo da ponte aérea com seus 13 filhos, partilhou a sua experiência.

"Foi um grande contraditório, porque quase toda a família dizia que eu podia ir, que não havia problema, mas havia outros que falavam nas minhas costas que eu ia com todos os meus filhos, que íamos passar fome", sublinhou Rodrigues.

"Graças a Deus, fomos e fomos bem recebidos no aeroporto de Lisboa, onde estivemos por seis dias e depois partimos para Santa Maria, nos Açores, e lá permaneci por oito anos", continuou.

João Rodrigues explicou que a sua decisão de partir surgiu depois de um convite da Direção-Geral da Aeronáutica Civil. O regresso a Cabo Verde, 50 anos depois. foi, para Rodrigues, uma grande alegria por poder ver "essa transformação que está em Cabo Verde".

Nesse mesmo voo de partida, há meio século, seguia Luís Rodrigues, filho de João Rodrigues, com apenas seis meses de vida.

Luís Rodrigues nunca mais tinha regressado a Cabo Verde. Agora, com 50 anos, veio finalmente conhecer a sua terra natal.

O seu regresso tem um significado especial, que é cumprir uma promessa feita à mãe e acompanhar o pai, João Rodrigues, para refazer os passos daquela partida há 50 anos.

Para Luís, esta viagem é uma oportunidade de conectar-se com as suas raízes e compreender a história da sua família e do seu país.

Com a independência, muitos jovens que viviam em Portugal, incluindo estudantes, sentiram o apelo de regressar à sua terra natal, contribuindo fundamentalmente na reconstrução do país em setores vitais como o Aeroporto, a TACV, educação, saúde e administração pública.

NA/JMV

Inforpress/Fim

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