Cidade da Praia, 24 Mai (Inforpress) – A Rede Nacional de Pessoas que Vivem com VIH/Sida em Cabo Verde continua a travar uma batalha desigual contra o preconceito, a negação da doença e a escassez de apoios financeiros, volvidos mais de uma década da sua criação.
Quem o diz é a presidente Josefa Rodrigues, que falava à Inforpress, e alertou para o drama de quem inicia o tratamento e desiste, para o impacto do estigma social e para a urgente necessidade de financiamento que permita expandir o trabalho de apoio e sensibilização a todas as ilhas do país.
Fundada em 2011, por iniciativa de pessoas que vivem com o vírus VIH e em colaboração com a ONU, o Ministério da Saúde e o Comité de Coordenação do Combate à SIDA (CCS-SIDA), a Rede Nacional tem como missão principal o apoio psicossocial a portadores do vírus e suas famílias, através de visitas domiciliárias, capacitação e actividades geradoras de rendimento.
Na cidade da Praia, e mais recentemente em São Vicente, a Rede tem levado informação crucial sobre prevenção e tratamento, além de combater o estigma que ainda pesa sobre esta população.
“Muitas pessoas chegam à Rede ainda em negação, isoladas por medo do julgamento, mas, com apoio individual e grupos de autoajuda, conseguimos que aceitem a doença e prossigam com o tratamento”, explica Josefa Rodrigues.
Apesar dos avanços, persiste o desafio das pessoas que abandonam a medicação e de um preconceito social enraizado, alimentado por falsas ideias de que o VIH é uma sentença de morte, boatos, abuso verbal, rejeição social e discriminação.
“A sociedade cabo-verdiana está mais aberta, mas ainda existem estigmas a combater”, afirmou aquela presidente.
Outro “problema grave” é a falta de financiamento. A Rede não tem recursos próprios e depende de parceiros para desenvolver os seus projectos, disse.
“Se tivéssemos o nosso próprio financiamento, poderíamos expandir para todas as ilhas, garantindo um apoio mais eficaz e inclusivo”, afirmou Rodrigues.
A Rede Nacional, acrescentou, continua a ser um farol de esperança para quem vive com VIH em Cabo Verde, mas a sua sobrevivência depende da solidariedade institucional e do combate permanente ao preconceito.
Segundo a mesma fonte, é necessário que o Governo preste mais atenção às necessidades específicas desta população, destacando a importância de atribuir uma pensão às pessoas seropositivas que, muitas vezes, não conseguem exercer actividades profissionais.
“Para além do vírus, muitos convivem com outras doenças associadas, o que limita fortemente a sua capacidade de trabalhar e garantir o próprio sustento”, sublinhou.
Esta dirigente alertou ainda para a situação das crianças órfãs, muitas das quais são cuidadas por avós, cujo único rendimento provém de pensões de velhice.
JBR/ZS
Inforpress/Fim
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