Dia Mundial do Autismo: “Sociedade não está preparada para lidar com crianças autistas", afirma mãe atípica

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Dia Mundial do Autismo: “Sociedade não está preparada para lidar com crianças autistas", afirma mãe atípica
02/04/25 - 05:49 pm

Ribeira Grande, 02 Abr (Inforpress) - Benvinda Rodrigues, mãe de Miguel, uma criança de sete anos com diagnóstico de autismo, afirmou hoje que a sociedade “não está preparada” para lidar com crianças autistas, sublinhando a necessidade de maior compreensão e inclusão.

“Antes de ter o diagnóstico do meu filho, ouvia falar sobre o autismo, mas não sabia realmente o que era. E vejo que, ainda hoje, muitas pessoas estão desinformadas sobre isso. A nossa sociedade não está preparada para lidar com crianças autistas”, disse.

Benvinda Rodrigues, que falava à Inforpress, no Dia Mundial de Consciencialização sobre o Autismo descreveu situações comuns que ocorrem no seu dia a dia, quando Miguel, devido à sua condição, não consegue se comportar da forma esperada por outros.

“Miguel é uma criança autista. Se eu o levar a um lugar e ele começar a fazer birra, ninguém cede o seu lugar. Em vez de entenderem que ele pode estar a sofrer uma crise, muitas pessoas dão opiniões como 'corrija-o com uma palmada', algo que não ajuda em nada”, lamentou.

Entretanto, a mãe reconheceu que na sua comunidade, a aceitação e o apoio são mais evidentes.

"Graças a Deus, na comunidade onde moro, todos sabem que o Miguel é autista. Os vizinhos me ajudam muito, e até as crianças da rua sabem como brincar com ele, como respeitar os seus gostos e limites. Quando Miguel não consegue fazer alguma brincadeira, eles o incentivam a tentar do seu jeito", explicou.

Miguel, segundo a mãe, estuda na segunda classe, ainda enfrenta desafios em algumas áreas, como a escrita.

No entanto, Benvinda elucidou os progressos notáveis, principalmente na linguagem, onde ele reconhece todas as letras do alfabeto e consegue montar palavras com elas.

"Ele ainda não escreve, mas a sua evolução tem sido grande. Quando entrou na escola, não conseguia ficar na sala de aula devido à rigidez cognitiva e à rejeição de lugares com muita gente. Hoje, ele diz que vai para a escola com entusiasmo", relatou.

No entanto, a mãe ainda acredita que as escolas não estão “suficientemente” preparadas para lidar com crianças autistas.

"As escolas, embora se esforcem e têm dado o máximo, não conseguem dar o suporte necessário, pois não estão equipadas para isso. No futuro, quando o autismo for mais debatido e compreendido, espero que as escolas comecem a fazer investimentos em estratégias mais inclusivas", afirmou Benvinda, que sugeriu a realização de palestras sobre o tema e uma maior sensibilização nas escolas e na sociedade em geral.

Benvinda Rodrigues recordou que a sua jornada com Miguel começou quando ela notou comportamentos diferentes em relação aos seus outros dois filhos mais velhos.

“O Miguel não começou a falar na idade considerada normal e, com dois ou três anos, eu já estava preocupada. Ele não falava como outras crianças, dizia apenas algumas palavras isoladas. Quando começou a ver desenhos animados, começou a falar imitando os personagens, mas falava apenas em português, nunca em crioulo”, explicou.

Segundo a mesma fonte, uma vizinha psicóloga observou o comportamento de Miguel e sugeriu que consultasse um neuro-pediatra. A partir daí, Miguel passou a receber acompanhamento terapêutico, incluindo sessões de fonoaudiologia, psicologia e tele-consultas com um neuropediatra na cidade da Praia, onde o diagnóstico de autismo foi finalmente confirmado.

Para Benvinda, a confirmação do diagnóstico não foi uma surpresa.

"Quando soubemos que Miguel era autista, já suspeitávamos disso. Eu havia pesquisado tanto sobre o autismo, que comecei a aplicar algumas estratégias para ajudá-lo, mesmo antes do diagnóstico. Percebi que ele não reagia como outras crianças e que o melhor era adaptar a minha forma de lidar com ele", contou.

Além das terapias convencionais, Miguel também tem o privilégio de ter o apoio de um vizinho, o professor António, que o ensinou a nadar e tem sido uma presença constante na vida do pequeno Miguel.

"Miguel vai ao mar praticamente o ano inteiro. O professor António tem sido um anjo da guarda para nós. Peço mais amor, compreensão e respeito para as pessoas autistas. Eles têm de ser aceitos como são e precisam ser entendidos. São pessoas superinteligentes, só têm uma maneira diferente de aprender e de interagir com o mundo. É importante que a sociedade seja mais unida e que todos nos esforcemos para não discriminar, para sermos mais tolerantes e empáticos. O autismo não é uma sentença, mas um desafio que, quando enfrentado com apoio e conhecimento, pode ser superado de formas surpreendentes”, considerou.

No concelho da Ribeira Grande, segundo dados da Equipa Multidisciplinar de Apoio à Educação Inclusiva (EMAEI), existe uma criança no básico com diagnostico de autismo e dois ainda estão sem o diagnostico completo. Já no pré-escolar há cinco sem o diagnostico completo e no secundário um estudante que também está sem diagnostico completo.

O Dia Mundial da Conscientização do Autismo, foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU), no ano de 2007. Essa data foi escolhida com o objectivo de levar informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra os indivíduos que apresentam o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

LFS/ZS

Inforpess/Fim

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