Entre arte e resistência, gerações de artesãos cabo-verdianos lutam por reconhecimento e apoio

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Entre arte e resistência, gerações de artesãos cabo-verdianos lutam por reconhecimento e apoio
13/08/25 - 03:00 am

Cidade da Praia, 13 Ago (Inforpress) – No mundo do artesanato cabo-verdiano, duas gerações enfrentam desafios e buscam reconhecimento, entre tradição e inovação, e a lutar por apoio e espaço, tanto no mercado local quanto internacional, carregando sonhos e resistência em cada criação.

Adérito de Pina é um veterano que carrega consigo a memória e a experiência da evolução do artesanato no país, mais precisamente na área da marcenaria. Para ele, a arte exige mais que talento, pois exige estudo, disciplina e, acima de tudo, resistência.

“A formalidade ainda é um passo difícil para nós”, confessa. A burocracia, o mercado e a ausência de apoio governamental tornam o caminho mais tortuoso.

 (…) não se iludam pensando que alguém vai segurar a sua mão, tem que insistir, mesmo quando tudo parecer impossível”, narrou.

Maria Madalena, conhecida como Helena, mantém viva a história em suas mãos habilidosas, retratando a tradição antiga através das bonecas que faz.

Sua especialidade são os bonecos de pano, que mais do que simples objectos, carregam a memória da “Ribeira Grande de Santiago”, onde a cultura e as vivências do povo ganham vida em cada ponto e tecido. 

“Ser artesã não é fácil, pouco somos reconhecidos e valorizados, mas quem aposta no trabalho pode crescer,” diz ela, com esperança no futuro e na ampliação do apoio governamental para capacitação e valorização.

Na mesma linha, a jovem Bruna Cabral enfrenta a dureza do mercado artístico para emergentes.

Com 23 anos, pintora e dançarina, Bruna começou a vender suas obras em 2023, mas só conseguiu dar um salto quando obteve financiamento da Câmara Municipal da Praia para participar numa feira, em Luxemburgo. 

“Foi uma porta que se abriu. Recebi muitos contactos e feedbacks,” conta, deixando um recado para os jovens, encorajando-os para que não desistam dos sonhos.

“São poucas as pessoas que realmente vão te ajudar, então acredite em ti mesmo e segue firme”, vincou.

Quem tem buscado dar corpo e voz a esses encontros culturais em Santiago Sul é Cláudio Ramos, mentor e promotor de eventos culturais, que destaca a falta de espaços reais, onde os artesãos possam mostrar os seus trabalhos e debater as suas necessidades.

“Muitos nunca foram sequer selecionados para eventos e não há discussão sobre a criação de associações ou cooperativas que fortaleçam o sector”, denunciou. 

Neste sentido, propõe que o segundo piso do mercado de Plateau seja um espaço que possa unir cultura, gastronomia e artesanato, dando maior visibilidade aos artistas e força na interlocução com a sociedade no geral.

Essas vozes, distintas e complementares, revelam um sector que pulsa entre o passado e o futuro, resistindo às adversidades para garantir que o artesanato cabo-verdiano ocupe o espaço que merece no cenário cultural e econômico do país.

KA/AV/JMV

Inforpress/Fim

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