Cidade das Pombas, 12 Jun (Inforpress) – A perda da população paulense dominou, hoje, os discursos dos representantes da oposição (PAICV E UCID) durante a sessão solene da Assembleia Municipal do Paul comemorativa do Dia do Município local.
O líder da bancada do Partido Africano da Independência de Cabo Verde (PAICV – oposição na AM), Nilton Delgado, disse que à semelhança do que acontece um pouco por todo o país, nestes últimos anos, a saga da imigração voltou a assolar.
“O censo de 2020 já revelava uma considerável diminuição da população, com todas as suas consequências políticas, económicas e sociais, como todos nós sabemos. Sem dados concretos, afirmamos que hoje a nossa população é ainda muito menor, devido às inúmeras pessoas que, a juntar aquelas que em outros anos mudaram-se para as ilhas com melhores condições económicas, outras decidiram emigrar para o estrangeiro”, salientou.
Conforme sublinhou Nilton Delgado, é “óbvio” que o PAICV não é contra quem tem “ambição” de procurar melhores condições de vida para si e para os seus, seja país ou no estrangeiro.
Naturalmente, segundo o politico a procura de melhores condições de vida em outras paradas vai causar, a curto e a longo prazo, “graves” problemas económicos e sociais, como é o caso da diminuição da camada jovem e da força jovem, o envelhecimento da população, o êxodo rural, o abandono dos campos, o que “já é uma realidade”, diminuição da disponibilidade de mão de obra e a fuga de quadros.
“E esta equipa, que gere os destinos do nosso município há 12 anos, já não vem a tempo de pintar um novo quadro desse nosso mural. São precisas novas ideias, novos projectos e novas políticas que, não só, promovam a reflexão dos nossos, mas também atraiam os outros. Estamos a viver num conceito eminentemente agrícola” afirmou.
Por isso, Nilton Delgado defendeu que a “atenção” dada a esta área deveria e deve ser diferente.
Outrossim, o líder da bancada do PAICV na AM Paul disse que ficou “muito satisfeito” com a recente inauguração da Casa do Gelo, na zona piscatória do Paço, que era uma reivindicação antiga e que, na sua opinião, vai trazer um outro “alento e competitividade” a essa área, bem como a construção de guaritas para os pescadores em Penedo de Janela.
Entretanto, segundo a mesma fonte muitos outros projectos que podiam alavancar e dar uma outra dinâmica ao sector da pesca no município “nunca” saíram do papel.
“Não é aceitável que nos dias de hoje, muitos dos nossos pescadores estejam a utilizar ainda as mais rudimentares técnicas de navegação e de captura. Onde os sectores como a juventude, a cultura, o desporto, o turismo e o emprego carecem de uma urgente e especial atenção”, pontuou.
Na mesma linha, o eleito municipal da União Cabo-verdiana Independente e Democrática (UCID), Jailson Brito, apontou que, por “falta de oportunidade”, a ilha de Santo Antão tem vindo a enfrentar “graves” problemas demográficos, com a perda da população.
“Muitos jovens são forçados a saírem do nosso concelho e viajar para o estrangeiro à busca de melhores condições de vida. Estes factos citados têm vindo a contribuir para o despovoamento da nossa ilha de forma desenfreada e o pior é que muitos actores políticos das sucessivas governações têm levantado grandes discursos à volta desta realidade e nada têm feito para travar este fenómeno social”, sublinhou.
Este facto, segundo o eleito municipal, pode ser travado com políticas de incentivo e com emprego digno, nomeadamente, da modernização da agricultura, da pecuária e com novos técnicos agrícolas revolucionários e com sementes e raças melhoradas, conquista de novos mercados quer nacionais ou internacionais, pondo término ao embargo dos produtos agrícolas de Santo Antão.
Jailson Brito salientou que não podem “desculpar-se” mais com a praga dos milpés que, na sua visão, são “meras desculpas e propagandas” eleitorais.
“Hoje não pode ser apenas um dia de festa, mas também um dia de reflexão. É um momento crucial para prepararmos, avaliarmos e vermos o que fazer, aprimorando por uma qualidade a redução da pobreza com o emprego público, a criação de parques industriais, mais água de qualidade tanto para o consumo como para a agricultura, acudindo assim reivindicações do povo, melhor saneamento do meio, incluindo a limpeza e a restauração dos caminhos vicinais, o desencravamento das localidades, melhor iluminação pública que é algo deficiente aqui no Paul”, finalizou.
Por seu lado, o líder da bancada do Movimento para a Democracia (MpD – situação), Bartolomeu Cruz, afirmou que nos últimos anos, Paul tem dado “passos largos e firmes” no seu processo de desenvolvimento, graças à “visão ousada e competente” do executivo municipal.
“Uma análise perspectiva sobre estes processos de desenvolvimento do município, vislumbra, por um lado, uma panóplia de ganhos de percurso nos mais diversos sectores, designadamente, na saúde, saneamento, educação, água, energia, desporto, entre outros”, afiançou.
E assim, segundo o líder da bancada do MpD, aponta um conjunto de desafios socioeconómicos a vencer, sobretudo nos domínios do combate ao desemprego e à pobreza, como também nos domínios da agricultura, da pesca ou da urbanização, enquanto motores de desenvolvimento sustentável.
No entanto segundo Bartolomeu Cruz é necessário reconhecer os ganhos, os progressos, os avanços que o município do Paul registou, designadamente, a requalificação urbana e ambiental, requalificação da estancia turística da Passagem, entre outros.
“Apraz-nos ainda registar o reinício, para breve, das obras de reabilitação do antigo cineteatro que vai dar lugar ao Auditório Municipal, visando assim dotar e empoderar o município com uma infra-estrutura cultural que será colocada à disposição da população e dos seus visitantes”, afirmou.
Paul, que festeja o seu dia de Município e do padroeiro, Santo António das Pombas, no próximo dia 13 de Junho, é um concelho que se situa no extremo nordeste da ilha de Santo Antão e tem 54,26 quilómetros quadrados (km²) de superfície.
Tem uma população de 5.766 habitantes, em 2023, com 55,3 por cento (%) de indivíduos de sexo masculino e 44,7% de sexo feminino, segundo dados cedidos pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).
Segundo a mesma fonte, a população do Paul representa 15,6% do total da ilha de Santo Antão e está reunida em 1.802 agregados familiares.
A taxa de ocupação da população activa é de 47,8% e a taxa de desemprego 10.2%, com o desemprego jovem (15-24 anos) na casa dos 24%.
Paul tem uma taxa de alfabetização de 83.7% na faixa etária superior a 15 anos, mas a taxa sobe para 98,1% na faixa etária dos 15-24 anos.
Ainda citando os dados que nos foram facultados pelo INE, o quesito das condições de vida indica que 95,5% da população tem acesso à electricidade, 85,3% tem casa de banho, 89,5% tem acesso à água da rede pública, 51,7% usa contentores, 74,7% usa gaz butano e 22 % usa lenha para cozinhar.
LFS/HF
Inforpress/Fim
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