Cidade da Praia, 20 Jun (Inforpress) - Um número crescente de jovens empreendedores em Cabo Verde está a transformar ideias criativas em negócios viáveis, unindo arte, inovação e força de vontade, apostando no empreendedorismo como caminho de autonomia, apesar dos desafios existentes.
Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), Cabo Verde registou, em 2024, uma taxa de desemprego de 8 por cento (%), com a população desempregada a diminuir de 21.853 para 17.373 indivíduos em relação a 2023.
A nível nacional, sectores como turismo, comércio, e serviços digitais têm sido apontados como áreas de aposta para os jovens empreendedores.
Nesse contexto, a jovem Denise da Veiga, natural do concelho de São Lourenço dos Órgãos, que actualmente reside na cidade da Praia, é um dos exemplos desta tendência. Criou recentemente a sua marca “Doce Encanto”, após enfrentar problemas de saúde que a impedem de continuar a trabalhar normalmente.
“Com medo de perder o meu emprego, decidi fazer algo que me permita auto sustentar-me caso isso aconteça, foi daí que criei a minha empresa”, explicou à Inforpress.
A jovem começou por vender bolos de pote, passou para bolo vulcão, potes de frutas e tigelas ‘gourmet’ é o novo produto incluído no cardápio da sua empresa.
Hoje, já produz bolos de aniversário e pretende aprofundar o seu conhecimento em pastelaria.
“Quero entrar no ramo da pastelaria e aprender a fazer tudo de um pouco”, disse.
Apesar de ser mãe, Denise da Veiga conseguiu encontrar um equilíbrio possível com o empreendedorismo e descobriu que conciliar a maternidade com o negócio é complicado, mas frisou “que sempre se deve encontrar soluções”.
Mesmo enfrentando limitações de materiais e espaço, Denise da Veiga optou por encará-los como oportunidades, enfatizando que não vê essas limitações como desafios, mas sim como aprendizados.
Apesar de fazer tudo sozinha, desde a produção, o marketing à gestão da página nas redes sociais, a jovem ambiciona expandir o seu negócio.
Quem também encontrou no empreendedorismo um caminho de afirmação pessoal e cultural foi Marilson Tavares, um jovem artista natural da cidade da Praia.
Começou com telas e caricaturas, mas decidiu aplicar a sua arte em ténis, sempre com inspiração na identidade cultural cabo-verdiana.
A ideia surgiu quando um amigo lhe pediu para personalizar um ténis que não queria deitar fora.
“Pensei, se eu conseguir personalizar o ténis, posso alcançar muitas pessoas que não deixam os seus sapatos guardados ou deitá-los fora”, declarou.
Marilson Tavares chegou a ingressar na universidade, mas a falta de recursos financeiros levou-o a desistir, optando por investir no seu talento e transformá-lo numa fonte de rendimento.
“O maior desafio é o facto de muitas pessoas ainda não valorizarem a identidade cultural cabo-verdiana, além disso, as condições financeiras podem atrapalhar o negócio”, lamentou, sublinhando que importa a maior parte dos materiais com que trabalha.
Além de personalizar ténis para vários cantores como Apollo G, Lose Júnior, Boy Game e Sónia Sousa, Marilson Tavares aceita encomendas dentro e fora do país.
Sem apoio institucional, o jovem investiu em formações em artes culturais e gestão de negócios, e tentou criar um mini-estúdio para crianças.
“A ideia era que, em vez de estar na rua, pudesse passar tempo num espaço, onde aprendesse a desenhar, a expressar as suas ideias e valorizar a cultura através da arte”, explicou.
O vice-presidente da assembleia da Associação dos Jovens Empreendedores de Cabo Verde (AJE-CV), Éder Tavares, referiu que a associação tem sido um suporte fundamental, fornecendo ferramentas como mentorias, formações gratuitas, workshops e palestras.
“Temos um projecto chamado “Impulso Jovem”, que está relacionado com a formação e mentoria, com parceiros para que os jovens possam adquirir competências para entrarem no mundo de negócios”, salientou.
Após as formações, os jovens empreendedores continuam a receber acompanhamento, desde o projecto até à legalização, obtenção de financiamento até à abertura do negócio.
Contudo, segundo Eder Tavares, a legalização das empresas é uma das dificuldades comuns enfrentadas pelos jovens, pois descreve o processo como “burocrático” porque os “jovens são enviados de uma entidade para outra, e isso muitas vezes é desmotivante”.
O vice-presidente da assembleia da AJE-CV destacou a importância do empreendedorismo para o país, argumentando que o Governo não consegue criar postos de trabalho para toda a população.
Nesse sentido, considerou essencial incluir o empreendedorismo desde o ensino básico.
“Se quisermos realmente capacitar os jovens a seguirem o caminho do empreendedorismo, talvez, devêssemos integrá-lo no currículo escolar, começando com noções de educação financeira, como criar uma empresa e como ser autónomo”, concluiu.
KF/SR//CP
Inforpress/Fim
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