Cidade da Praia, 27 Jun (Inforpress) – O Instituto do Património Cultural (IPC) entregou hoje 12 cimboas a escolas e academias de música, na cidade da Praia, no âmbito do projecto “Cimboa para o Desenvolvimento Sustentável”, financiado pela União Europeia através do Programa Procultura.
A presidente do IPC, Ana Samira Baessa, explicou que esta entrega, que decorreu na Cesária Évora – Academia de Artes, acontece no quadro do projecto de promoção e salvaguarda da cimboa, visando a sua reintrodução no contexto cultural e artístico nacional, quer seja como instrumento do artesanato, quer seja como instrumento musical.
O projecto, iniciado em 2022, já contemplou diversas acções, incluindo formações em construção e execução da cimboa nos municípios de Santa Cruz, São Domingos e Tarrafal, regiões onde a tradição do instrumento ainda se mantém viva.
“Já foram realizadas inúmeras outras iniciativas a nível de actividades de promoção e culturais e junta-se, agora, este momento de entrega das cimboas às escolas e academias de música. Isso na sequência de uma acção de formação que foi ministrada no mês de Março e em que participaram estas entidades, e uma das questões levantadas foi, precisamente, o facto de os professores e os alunos não terem acesso à cimboa”, ressaltou.
Ana Samira Baessa lembrou que a cimboa é classificada como património de salvaguarda urgente, uma vez que se encontra em risco de desaparecimento.
“Temos poucos mestres que sabem construir a cimboa, poucas pessoas que a executam e uma quase total inacessibilidade da cimboa enquanto instrumento musical”, frisou.
Com esta iniciativa, o IPC pretende integrar a cimboa nos espaços de aprendizagem da música.
A Academia Cesária Évora, o Programa de Bolsa de Acesso à Cultura (BACultura) e a Escola Pentagrama, estruturas com grande alcance formativo e ligação às comunidades, foram as beneficiárias desta acção.
“Acreditamos que estes poderão ser os principais veículos para a transmissão da cimboa. Daí que esta entrega simbólica se configura como um momento muito importante no quadro deste projecto, que já está a chegar ao fim”, disse, acreditando na perpetuação do instrumento.
Durante o projecto, foram construídas cerca de 100 cimboas, e a presidente do IPC garantiu que o esforço de massificar o acesso ao instrumento irá continuar, com planos para estender a iniciativa a outras estruturas educativas em Santiago e noutras ilhas.
Por seu lado, Pascoal Fernandes “Pascoal”, tocador e construtor da cimboa desde 2006, destacou a importância de ensinar o instrumento às novas gerações, sublinhando que se trata do mais antigo e único instrumento de corda tradicionalmente cabo-verdiano, feito a partir de matéria-prima local.
Conforme avançou, a cimboa acompanhou durante anos apenas o género musical “batucu” e está agora a ser reintroduzida noutros estilos, no âmbito de projectos de preservação da memória cultural.
“Nenhum instrumento é feito para tocar um único género musical”, afirmou, reforçando que a diversidade de uso depende da criatividade dos músicos.
Pascoal reconhece, no entanto, as dificuldades em despertar o interesse dos jovens.
“A cimboa foi posta de lado, não por questões políticas como o batuque ou o funaná, mas por razões técnicas”, considerou acreditando na readaptação do instrumento.
TC/CP
Inforpress/Fim
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