
*** Por Neidilídia Andrade, da Agência Inforpress ***
Espargos, 31 Out (Inforpress) - Cinco décadas após a sua composição, a música "Labanta Braço", da autoria de Alcides Brito, carinhosamente conhecido por Tchinoa, mantém-se como um “poderoso ícone” e, para muitos, o hino não oficial do período pós-independência de Cabo Verde.
Esta melodia simples, mas carregada de significado, nasceu de forma espontânea, num momento de euforia colectiva que marcou a alvorada de um novo país.
A história de "Labanta Braço" remonta à noite da vigília para o dia 05 de Julho de 1975, na ilha do Sal.
A euforia tomava conta da Praça da Igreja do Nazareno, no Sal.
O povo celebrava à meia-noite da Independência Nacional e em pleno palco, com o seu grupo Voz Djassi, Alcides Brito, sentiu a inspiração inadiável, um momento de evacuação colectiva que se traduziu numa melodia simples e poderosa.
Em entrevista exclusiva à Inforpress, o artista desvendou a génese de "Labanta Braço", e partilhou o seu percurso singular, da censura paterna ao serviço militar e à luta pela sua identidade.
"Essa música apareceu de uma forma espontânea... na entrada de 05 de Julho de 1975, quando começaram a instalar os foguetes ali do Morro Curral, o nosso grupo estava parado para deixar o povo comemorar a entrada do 05 de Julho (…) comecei a cantar, então, “labanta braço bu grita bo liberdade, viva o 05 de Julho”', explicou.
Foi aí, conforme explicou Tchinoa, que nasceria, de forma espontânea, “uma música simples, com acordes simples”, que se tornaria uma das músicas mais ouvidas em Cabo Verde mundo afora.
A canção, que “convoca” o povo a levantar o braço e gritar a liberdade recém-conquistada, capturou a essência do momento.
Tchinoa sublinha que a mensagem visava "prestigiar o momento" que, a seu ver, era o “melhor momento para essas ilhas deste Cabo Verde”, e que veio dar a possibilidade de "libertar do jugo colonial" e dar a possibilidade dessas ilhas sonharem com um futuro melhor".
A música sempre correu nas veias de Alcides Brito. Os seus primeiros acordes, por volta dos nove anos, foram dados no violão de seu pai, um homem com a sua própria filosofia de vida que não queria os filhos menores a tocar.
Contudo, a paixão falou mais alto e em 1967, criou no Sal, o primeiro grupo musical juvenil, Os Jatos, em conjunto com colegas do Externato do Aeroporto.
A banda, sem instrumentos próprios, dependia dos "bons préstimos dos militares portugueses", cedidos através do Capitão Alexandre Portugal, que também era seu professor de Matemática.
Em 1969, juntou-se à banda salense Os Únicos, o primeiro grupo a ter equipamento eléctrico na ilha, e em 1974 após regressar do serviço militar, integrou a banda efémera Improviso.
Já em 1975, co-fundou o grupo Voz Djassi, após contrair um empréstimo no Banco Nacional Ultramarino para adquirir instrumentos, estreando-se a 03 de Julho, vésperas da independência.
A composição de "Labanta Braço" consolidou-se quando o grupo de renome internacional Os Tubarões, em actuação no Sal, ouviu a melodia.
O vocalista Ildo Lobo gostou da letra e manifestou o desejo de a gravar e Txinoa deu a sua bênção.
Questionado sobre a relevância da mensagem 50 anos após a independência, o compositor é categórico: em afirmar que acredita que ainda se mantém esta actualização.
Tchinoa reforça a importância de “despertar a consciência nacional”, especialmente nas escolas, onde "muitos ainda não conhecem as histórias" de um Cabo Verde antes de 1975.
Reflectindo sobre a transição do país, Alcides Brito, que viveu 25 anos sob o jugo colonial, destaca a evolução em muitos aspetos, nomeadamente, na saúde, da existência de apenas um ou dois médicos no Sal antes de 1975, para uma realidade completamente diferente.
Na educação, sublinhou a passagem de um sistema com poucas sucursais de liceu para a proliferação de escolas, bem como a transformação de localidades como Santa Maria e Espargos.
A música, para Alcides Brito, sempre foi uma forma de expressar a vida e a luta de um povo.
A canção "Labanta Braço" transcende a condição de simples música, cravando-se na história de Cabo Verde como o “grito autêntico de liberdade e exaltação patriótica” de um povo que celebra a sua independência.
NA/ZS
Inforpress/Fim
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