Ilha do Sal: Mutilação genital emerge como nova preocupação para o ICCA
Espargos, 01 Jun (Inforpress) - A delegada do Instituto Cabo-verdiano da Criança e do Adolescente (ICCA) no Sal fez hoje, Dia Internacional da Criança, um alerta sobre a emergência de casos de mutilação genital em Cabo Verde, especialmente na ilha do Sal.
Queila Soares deixou este alerta em entrevista exclusiva à Inforpress por ocasião do Dia Internacional das Crianças, celebrado hoje 1.º de Junho, numa altura em que as práticas de mutilação genital na ilha vêm chamando atenção das autoridades e da sociedade em geral.
A prática, classificada como mutilação sexual pelo código penal cabo-verdiano, é uma novidade no país e tem gerado grande preocupação entre as autoridades.
Queila Soares enfatizou que, embora Cabo Verde seja um país aberto a diversas culturas e religiões, a mutilação genital é uma prática "triste" e "não permitida" no território nacional.
"Cultural ou não, é triste porque é uma criança exposta a uma violação profunda do seu ser", afirmou a delegada, ressaltando que, para Cabo Verde, a mutilação sexual é um crime e será combatida com rigor.
Conforme a mesma fonte, o ICCA tem trabalhado em estreita colaboração com a Polícia Judiciária e o Ministério Público no processo de identificação e avaliação dos casos de mutilação genital.
Soares confirmou que já foram identificados casos e que medidas já foram aplicadas para os responsáveis.
A delegada mencionou a ilha do Sal como um local onde a prática também está sendo identificada, indicando uma possível ligação com as comunidades presentes na ilha.
Em resposta a essa problemática, o ICCA está a “intensificar” os seus esforços de prevenção e combate.
Um dos próximos passos é a realização de uma mesa redonda no dia 16 de Junho, Dia da Criança Africana.
O evento reunirá todos os serviços e o Comité Municipal para os Direitos da Criança na ilha do Sal, com o objectivo de discutir a questão, avaliar a percepção de cada instituição sobre o problema e partilhar informações cruciais sobre a gravidade, os impactos e as consequências da mutilação genital na vida das crianças e futuros adultos.
"Nosso propósito é reunir todos os serviços para juntos avaliarem, ver a percepção e criar estratégias para combater e prevenir que haja circulações", explicou Soares.
A intenção, continuou, não é só consciencializar a população sobre os riscos e a ilegalidade da prática em Cabo Verde, mas também garantir que medidas judiciais sejam tomadas contra aqueles que persistirem em realizá-la.
A delegada do ICCA destacou a importância das acções comunitárias, especialmente direccionadas às comunidades africanas, onde esta prática é mais frequente.
"Precisa ser feito um trabalho profundo e grande de sensibilização dessa problemática, com foco principal nos pais, que são os principais responsáveis, para que compreendam que, independentemente de qualquer aspecto cultural, trata-se de uma criança vulnerável, sem poder de decisão, que sofre profundamente com a prática”, continuou.
O ICCA, em conjunto com o Sistema de Protecção e o Comité Municipal, que engloba diversos serviços e instituições públicas e privadas na ilha do Sal, está a traçar planos abrangentes para prevenir e combater o problema.
"Não é o melhor caminho, não é o futuro para essas crianças", concluiu Queila Soares, reforçando o compromisso das autoridades cabo-verdianas em proteger a infância e erradicar a mutilação genital no país.
NA/ZS
Inforpress/Fim
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