Cidade da Praia, 30 Abr (Inforpress) - O ex-director-geral da Educação e Formação de Adultos, Lourenço Varela, lamentou a extinção da instituição, considerando que foi uma “rotura grande” no sistema, estimula à recuperação de “todo o trabalho realizado” a nível da alfabetização no país.
Lourenço Varela que foi também coordenador nacional de Alfabetização, entre 1982-1989, manifestou esse sentimento em entrevista à Inforpress, ao analisar o percurso e a evolução histórica da alfabetização em Cabo Verde, após 50 anos de país independente.
Analisando esse percurso, Varela realçou, por outro lado, o reconhecimento da Unesco, com o Prémio Internacional da Alfabetização em 2010, em que Cabo Verde venceu o primeiro lugar, enquanto a Alemanha em segundo lugar.
A propósito, contou que na altura um jornalista da BBC veio fazer uma reportagem para descobrir que país é esse que ganhou o primeiro lugar do Prémio Internacional da Unesco 2010, colocando a Alemanha na segunda posição.
“Isso fez eco na altura, lembro-me de cerimónias aqui na Praia, em Mindelo, testemunhos… Mas, infelizmente, em 2012 foi extinta a DGEFA”, conta, sublinhando, entretanto que Cabo Verde foi ganhando espaço no plano internacional por várias razões.
Primeiro, explicou, que “era e é, dos raros países” na África com um programa estruturado de educação de adultos sem rotura, não obstante as alternâncias políticas.
“Havia uma grande aspiração em relação a 1990, a 2000. Há uma evolução no investimento em relação à educação, era na altura dos raros países, senão o único que tinha uma carreira de educadores de adultos integrado na carreira docente, com estatuto salarial, reconhecimento social e dos raros países que tinha um programa, um currículo específico de educação de jovens e adultos, equiparado ao sistema escolar”, explicou.
“Mas mais, havia a componente de aprendizagem e formação de base, formação profissional. Então, isso no contexto internacional foi muito bem apreciado. Lembro-me, membros da direcção, eu próprio, várias vezes participando em reuniões da Unesco, em África, na América Latina, na Europa, dando testemunhos e, sobretudo, mostrando como é possível fazer uma aposta séria na educação de jovens e adultos”, salientou.
No seu entendimento, a alfabetização não é um processo curto, ou apenas um acto de ensinar a ler, a escrever e aprender os rudimentos da matemática, mas sim um processo, uma acção cultural com a dimensão da emancipação e da cidadania, um processo ao longo da vida das pessoas.
Nesta medida, instado a pronunciar-se o que se perdeu com a extinção da Direcção-geral da Educação e Formação de Adultos e o que ainda pode ser resgatado, Florenço Varela reiterou que Cabo Verde “perdeu uma estrutura articuladora” entre a educação básica de jovens e adultos, o sistema de aprendizagem e formação profissional e todo o sistema de formação à distância de jovens e adultos.
“Esta é uma opinião pessoal. Cabo Verde recebeu em 2007 a certificação deste sistema, podendo utilizar todo esse sistema de formação à distância, que ainda funciona muito bem em países desenvolvidos. Daí que eu acho que 2012 foi uma rotura grande no sistema”, lamentou.
Disse que basta olhar para o número de cursos de formação socioprofissional que havia na altura, designadamente escola da família, educação na circulação rodoviária, cursos ligados aos serviços, qualidade no atendimento, línguas, espanhol, francês e inglês turístico, só para citar alguns.
“É claro que as pessoas que não entendem a real dimensão da educação têm dificuldades em aceitar. Porque a ideia que se tem é que os dados mostram que já não temos mais analfabetos, portanto não justifica ter uma DGEFA”, finalizou, denotando a “insuficiência” na formação cidadã.
SC/ZS
Inforpress/Fim
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