Enfermeira alerta para riscos do uso de Cytotec em abortos clandestinos em Cabo Verde

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Enfermeira alerta para riscos do uso de Cytotec em abortos clandestinos em Cabo Verde
31/10/25 - 07:00 am

Cidade da Praia, 31 Out (Inforpress) – A enfermeira Lindzai Lopes alertou hoje para o uso indevido do medicamento Cytotec (nome comercial do misoprostol) em abortos clandestinos e chama atenção para os riscos que essa prática representa para a saúde das mulheres.

A responsável advertiu que a prática tem provocado complicações graves e, em alguns casos, mortes maternas em Cabo Verde.

Em declarações à Inforpress, esta profissional de saúde explicou que o misoprostol é um medicamento indicado para o tratamento de úlceras gástricas e também utilizado, sob supervisão médica, em procedimentos gineco-obstétricos como a indução do parto, prevenção de hemorragias pós-parto e interrupção legal da gravidez.

“É um medicamento que deve ser administrado apenas em ambiente hospitalar, com orientação e acompanhamento médico. O uso incorrecto pode causar hemorragias intensas, rotura uterina e infecções generalizadas que podem levar à morte”, alertou.

Segundo a enfermeira, muitas mulheres recorrem ao Cytotec em casa, de forma insegura, movidas pelo desespero, pela desinformação ou pelo medo do julgamento social.

“O uso do misoprostol fora do hospital, para mim, é um acto de desespero. É arriscar a própria vida para interromper uma gravidez”, advertiu.

Recordou que o aborto é legal em Cabo Verde até às 12 semanas de gestação, quando realizado nos hospitais públicos, com acompanhamento médico e em condições de segurança.

No entanto, realçou que “muitas mulheres desconhecem este direito e acabam por recorrer a métodos clandestinos, com graves riscos de vida”.

“Nós devemos empoderar as mulheres à informação. As mulheres têm que estar conscientes do que estão a fazer, dos riscos, das consequências e das alternativas”, reforçou.

Lindzai Lopes defendeu ainda que os profissionais de saúde devem acolher e orientar as mulheres que enfrentam uma gravidez não desejada.

“Nós não estamos aqui para julgar, mas para apoiar e aliviar. O aborto inseguro é um problema de saúde pública”, reforçou.

A enfermeira apelou também ao uso de métodos contraceptivos, lembrando que os centros de saúde de Cabo Verde disponibilizam várias opções de planeamento familiar a custo baixo.

“É melhor prevenir do que remediar. Se chegarem a uma situação difícil, procurem ajuda médica. Não usem o Cytotec em casa. Isso pode custar a vida”, concluiu.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre 5,2 por cento (%) e 17,2% das mortes maternas em África estão ligadas a abortos inseguros.

A nível global, cerca de 45% dos abortos induzidos são considerados inseguros.

KA/SR//HF

Inforpress/Fim

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