Cidade da Praia, 21 Jun (Inforpress) – O primeiro estudo epidemiológico sobre doenças do movimento em Cabo Verde revelou que 79% dos casos correspondem à doença de Parkinson sobretudo homens e que 70% enfrentam dificuldades moderadas ou fortes no acesso aos tratamentos.
Os dados foram divulgados hoje pela investigadora e presidente da Fundação Doenças do Movimento em Cabo Verde, Leida Tolentino, que avançou que a ideia nasceu da obra “A Vitória Hoje” do seu pai Corsino Tolentino.
Esta responsável, que falava à Inforpress, explicou que com base nesse legado é que, em 2020, surgiu o projecto que foi posteriormente formalizado em 2022, submetido à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, aprovado e agora concluído e que será apresentado na próxima terça-feira, 24 de Junho.
Segundo os resultados do estudo, foram identificados 110 portadores de doenças do movimento, das quais 79% correspondem à doença de Parkinson, 9% ao tremor essencial e 8% à doença de Hunt
A amostra inclui 54% de homens (com idade média de 67,6 anos) e 46% de mulheres (idade média de 61 anos) e a prevalência foi significativamente maior em pessoas com mais de 60 anos, sendo mais elevada entre os homens.
O estudo apontou ainda que 78% dos portadores utilizam medicamentos, mas 70% enfrentam dificuldades moderadas ou graves no acesso aos mesmos.
Além disso, 35% reportaram barreiras no acesso à terapia e 51% declararam um impacto forte ou extremo da doença nas suas vidas, destacando-se limitações motoras (43%), tristeza e falta de motivação (36%), ansiedade (36%) e dificuldades de memória (25%).
As conclusões indicam que, embora a prevalência em Cabo Verde seja inferior à média internacional e da África Ocidental, observa-se um aumento recente de casos, sobretudo em homens e maiores de 60 anos.
“O estudo recomenda que é necessário o diagnóstico precoce visto que 23% dos participantes da amostra foram diagnosticados com idade inferior a 50 anos, necessidade de serviços de neurologia descentralizados sendo que actualmente todos os neurologistas no país estão na ilha de Santiago”, apontou.
Leida Tolentino defendeu ainda uma abordagem holística, multidisciplinar e sistémica, com a coordenação entre diferentes sectores, medicação, terapias, comparticipação do INPS, apoio psicológico, fisioterapia e nutrição para um acompanhamento eficaz dos doentes.
Apontou ainda a necessidade urgente de reforço do sistema público de saúde e da melhoria dos sistemas de gestão em saúde.
A recolha de dados foi feita presencialmente em instituições públicas e privadas nas ilhas de Santiago, São Vicente e Santo Antão, complementada com entrevistas estruturadas e questionários online, abrangendo participantes de todas as ilhas, à excepção do Maio e Brava.
O estudo foi realizado de Julho a Dezembro de 2024, com o apoio do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) e de diversas instituições públicas e privadas do sector da saúde.
AV/ZS
Inforpress/Fim
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