Banco Mundial desvaloriza fim da USAID e vinca trabalhar mais com Tesouro dos EUA

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Banco Mundial desvaloriza fim da USAID e vinca trabalhar mais com Tesouro dos EUA
02/07/25 - 12:14 pm

Sevilha, Espanha, 02 Jul (Inforpress) - O diretor executivo do Banco Mundial desvalorizou hoje o fim definitivo da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), salientando que as mudanças são normais e que o envolvimento é principalmente com o Tesouro dos EUA.

"Os países reestruturam as suas indústrias, e os Estados Unidos não são os únicos, é da natureza dos governos", relativizou Axel van Trotsenburg, em entrevista à Lusa a propósito da participação do Banco Mundial na conferência sobre o financiamento do desenvolvimento, que decorre esta semana em Sevilha, Espanha.

"É importante sublinhar que a nossa cooperação com os EUA continua, muitas vezes debatemos diretamente com o Tesouro dos EUA", que tem a mesma função que o Ministério das Finanças nos governos europeus, disse o número dois do Banco Mundial.

O Governo norte-americano liderado por Donald Trump anunciou na terça-feira à noite o fim das operações da USAID, criada em 1961 e considerada durante décadas a maior distribuidora de ajuda humanitária do mundo.

A USAID estava em processo de desmantelamento desde fevereiro, quando começaram os cortes nas despesas públicas promovidos pelo magnata Elon Musk, mas, a partir de terça-feira, o Departamento de Estado assume a gestão total de toda a assistência internacional dos EUA.

O secretário de Estado, Marco Rubio, frisou em comunicado que a USAID não cumpriu os seus objetivos desde o fim da Guerra Fria, além de ter criado uma rede de Organizações Não-Governamentais (ONG) que viveram "à custa dos contribuintes americanos".

"Esta era de ineficiência chegou oficialmente ao fim. Sob a administração Trump, finalmente teremos uma ajuda externa que prioriza os nossos interesses nacionais", vincou.

Para Rubio, os cidadãos norte-americanos "não devem pagar impostos para financiar governos falidos em países distantes" e prometeu que, a partir de agora, "a ajuda será direcionada e limitada no tempo".

Na entrevista à Lusa por videoconferência a partir de Sevilha, Axel van Trotsenburg admitiu que "a decisão está tomada", mas salientou: "Estamos a trabalhar com diferentes agências e novas constelações e fazemos isso há décadas; vejo isso como mais uma movimentação e vamos trabalhar nesse contexto".

O fim da USAID foi muito criticado por especialistas em ajuda humanitária e organizações internacionais, que alertam que o seu desaparecimento deixa uma enorme lacuna nos programas de saúde, educação e resposta a crises humanitárias.

Os ex-Presidentes norte-americanos Barack Obama e George W. Bush endereçaram na segunda-feira raras críticas ao Governo Trump, enquanto o cantor Bono emocionou-se ao recitar um poema, num evento de despedida da USAID.

Um estudo coordenado pelo Instituto de Saúde Global de Barcelona (ISGlobal) e publicado na revista The Lancet alertou que os cortes na ajuda norte-americana podem levar a mais de 14 milhões de mortes 'evitáveis' até 2030.

De acordo com o estudo, a USAID teve um impacto fundamental na redução da mortalidade por VIH/SIDA, malária e doenças tropicais negligenciadas em todo o mundo.

A USAID foi criada em 1961 pelo então Presidente, John F. Kennedy, para canalizar a ajuda externa para fins de desenvolvimento e assistência humanitária.

No entanto, a agência tem também sido criticada ao longo da sua história por utilizar a ajuda como ferramenta de influência política e favorecer os interesses estratégicos de Washington em detrimento das necessidades locais.

Inforpress/Lusa

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