Cidade da Praia, Out 04 (Inforpress) - A professora aposentada Maria do Livramento Moreira explanou à Inforpress, no âmbito do Dia Mundial dos Professores, o seu contributo na alfabetização de adultos e a valorização social da profissão ao longo do tempo.
Durante mais de três décadas de serviço da docência, Maria do Livramento Moreira, conhecida por “Mento”, construiu uma história marcada pela dedicação à educação.
A sua carreira começou em 1987, em Montanha (São Lourenço dos Órgãos), altura em que conciliava o trabalho agrícola com as primeiras turmas de alfabetização. Apesar do salário inicial de 3.500 escudos, manteve-se firme na missão de ensinar.
No início, leccionou sobretudo a idosos, muitos com mais de 60 anos, que encontravam nas aulas não só um espaço de aprendizagem, mas também de convívio e dinamismo.
Neste exclusivo à Inforpress, recordou que não se limitava ao ensino formal, porquanto havia passeios, encontros e visitas a casa de quem faltava às aulas, já que a preocupação era garantir que todos se sentissem integrados.
A professora trabalhou em algumas localidades da ilha de Santiago, incluindo São Martinho (Matão), Montanha, Latada, Pensamento e Safende.
Em cada lugar deixou marcas profundas e criou laços duradouros.
Muitos dos seus antigos alunos tornaram-se vizinhos próximos, afilhados e até comadres, sinal de uma relação que ia para além da sala de aula.
Apesar de ter sonhado seguir outras profissões, como polícia, Maria do Livramento Moreira nunca abandonou o ensino.
“Ser professora é um orgulho”, afirmou, explicando que o verdadeiro valor do trabalho não estava apenas no vencimento, mas, sobretudo, no amor dedicado aos alunos e espírito de entrega.
A família foi sempre um pilar fundamental na sua trajectória. O marido e os filhos apoiaram-na durante anos de estudo e de docência, ajudando nas tarefas de casa e dando motivação.
Essa união foi, segundo a própria, determinante para concluir a sua formação até ao 12º ano e progredir na carreira docente.
Ao reflectir sobre a profissão, a professora destacou “diferenças claras” entre o passado e o presente.
Considerou que os alunos de antigamente eram mais “obedientes” e os professores mais respeitosos, enquanto hoje o sistema de ensino enfrenta desafios de motivação, desrespeito e métodos de avaliação “pouco eficazes”.
Ainda assim, acredita que cabe aos docentes encontrar estratégias para não deixar “ninguém para trás”.
No seu entender, o fim dos programas de alfabetização foi uma perda para o país.
Recordou que, no passado, até os adultos conseguiam ler e escrever o próprio nome, enquanto actualmente ainda há casos de pessoas que não sabem assinar o nome e recorrem à tinta.
Na véspera do Dia Mundial do Professor Maria do Livramento Moreira deixou uma mensagem de união à classe, no sentido de trabalhar com amor, dialogar, cultivar o espírito de equipa e evitar conflitos.
Aos mais jovens que pretendem seguir esta carreira, aconselhou que o façam pela vocação e não apenas pelo salário.
Moreira sublinhou que nenhuma sociedade progride sem educação e sem aqueles que dedicam a vida a ensinar.
O testemunho de Maria de Livramento Moreira, com décadas de dedicação, confirma que o professor está na base de todas as profissões e que o seu legado ultrapassa a sala de aula.
Instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1994, o Dia Mundial dos Professores é assinalado a 05 de Outubro.
KF/SR/JMV
Inforpress/Fim
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