Dia Mundial dos Professores: Maria do Livramento Moreira celebra legado da alfabetização e reflecte sobre desafios no ensino em Cabo Verde (c/áudio)

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  Dia Mundial dos Professores: Maria do Livramento Moreira celebra legado da alfabetização e reflecte sobre desafios no ensino em Cabo Verde  (c/áudio)
04/10/25 - 03:00 am

Cidade da Praia, Out 04 (Inforpress) - A professora aposentada Maria do Livramento Moreira explanou à Inforpress, no âmbito do Dia Mundial dos Professores, o seu contributo na alfabetização de adultos e a valorização social da profissão ao longo do tempo.

Durante mais de três décadas de serviço da docência, Maria do Livramento Moreira, conhecida por “Mento”, construiu uma história marcada pela dedicação à educação.

A sua carreira começou em 1987, em Montanha (São Lourenço dos Órgãos), altura em que conciliava o trabalho agrícola com as primeiras turmas de alfabetização. Apesar do salário inicial de 3.500 escudos, manteve-se firme na missão de ensinar.

No início, leccionou sobretudo a idosos, muitos com mais de 60 anos, que encontravam nas aulas não só um espaço de aprendizagem, mas também de convívio e dinamismo. 

Neste exclusivo à Inforpress, recordou que não se limitava ao ensino formal, porquanto havia passeios, encontros e visitas a casa de quem faltava às aulas, já que a preocupação era garantir que todos se sentissem integrados.

A professora trabalhou em algumas localidades da ilha de Santiago, incluindo São Martinho (Matão), Montanha, Latada, Pensamento e Safende.

Em cada lugar deixou marcas profundas e criou laços duradouros.

Muitos dos seus antigos alunos tornaram-se vizinhos próximos, afilhados e até comadres, sinal de uma relação que ia para além da sala de aula.

Apesar de ter sonhado seguir outras profissões, como polícia, Maria do Livramento Moreira nunca abandonou o ensino.

“Ser professora é um orgulho”, afirmou, explicando que o verdadeiro valor do trabalho não estava apenas no vencimento, mas, sobretudo, no amor dedicado aos alunos e espírito de entrega.

A família foi sempre um pilar fundamental na sua trajectória. O marido e os filhos apoiaram-na durante anos de estudo e de docência, ajudando nas tarefas de casa e dando motivação.

Essa união foi, segundo a própria, determinante para concluir a sua formação até ao 12º ano e progredir na carreira docente. 

Ao reflectir sobre a profissão, a professora destacou “diferenças claras” entre o passado e o presente.

Considerou que os alunos de antigamente eram mais “obedientes” e os professores mais respeitosos, enquanto hoje o sistema de ensino enfrenta desafios de motivação, desrespeito e métodos de avaliação “pouco eficazes”. 

Ainda assim, acredita que cabe aos docentes encontrar estratégias para não deixar “ninguém para trás”.

No seu entender, o fim dos programas de alfabetização foi uma perda para o país. 

Recordou que, no passado, até os adultos conseguiam ler e escrever o próprio nome, enquanto actualmente ainda há casos de pessoas que não sabem assinar o nome e recorrem à tinta.

Na véspera do Dia Mundial do Professor Maria do Livramento Moreira deixou uma mensagem de união à classe, no sentido de trabalhar com amor, dialogar, cultivar o espírito de equipa e evitar conflitos. 

Aos mais jovens que pretendem seguir esta carreira, aconselhou que o façam pela vocação e não apenas pelo salário.

Moreira sublinhou que nenhuma sociedade progride sem educação e sem aqueles que dedicam a vida a ensinar.

O testemunho de Maria de Livramento Moreira, com décadas de dedicação, confirma que o professor está na base de todas as profissões e que o seu legado ultrapassa a sala de aula.

Instituído pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 1994, o Dia Mundial dos Professores é assinalado a 05 de Outubro.

KF/SR/JMV

Inforpress/Fim

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