Santa Maria, Ilha do Sal, 26 Jun (Inforpress) – A convivialidade literária foi hoje um dos temas de reflexão e debate no segundo dia do Festival de Literatura Mundo que contou com a participação dos escritores Evel Rocha, Goretti Pina, Andreia Sousa e António de Castro Guerra.
O debate destacou a importância do diálogo entre os autores e as obras para o crescimento e aprimoramento da escrita.
O escritor cabo-verdiano Evel Rocha enfatizou que os encontros entre escritores, as viagens e a própria leitura são essenciais para a troca de experiências e o aprendizado contínuo.
"Quando nós lemos os outros escritores, nós estamos aprendendo", afirmou Rocha, sublinhando que a intertextualidade, o "diálogo entre as obras", é um pilar da produção literária.
Para a mesma fonte, o que parece novo e com um toque pessoal é, na verdade, fruto de leituras e experiências anteriores.
"A convivialidade não é apenas humana, mas é textual, é histórica e o que se escreve hoje ecoa o que foi escrito no passado ou está sendo produzido em outros lugares”, destacou.
O escritor cabo-verdiano também apontou para a relevância de eventos como o festival, que proporcionam "ter estes espaços" e a possibilidade de "encontrar-se pessoalmente".
Citou uma visita a uma escola ocorrida hoje, onde a troca de recordações e a recepção de "críticas construtivas" por parte dos leitores se mostraram valiosas para o aprimoramento.
Já a escritora santomense Goretti Pina trouxe uma perspectiva ampliada sobre a convivialidade literária, encarando-a como uma "oportunidade” de crescimento e de aprimoramento do seu próprio olhar.
A escritora, que não iniciou sua trajetória na escrita, mas tem consolidado seu percurso, destacou que a absorção de novas ideias ocorre não apenas no contato com autores publicados, mas também com "autores que não publicam".
Pina revelou seu gosto por conversar com pessoas em transportes públicos, onde descobre "muitos autores que não publicam", mas que a enriquecem profundamente.
Para Goretti, a produção literária é intrinsecamente influenciada pelas "nossas conversas, pelas leituras, pelo olhar no sentido físico, intelectual e de expansão de conhecimento".
Enfatizou que "aquilo que produzimos nunca é só nosso", sendo um produto de vivências, observações e memórias, inclusive de "tempos que não viveu".
Como exemplo, a escritora compartilhou sua conexão com Cabo Verde, terra natal de sua avó, e como a vida e trajetória da avó, uma contratada levada aos 10 anos para a Ilha do Príncipe.
A roda de conversa reforçou a ideia de que a literatura é um organismo vivo, constantemente alimentada pelo intercâmbio de ideias, experiências e pelo diálogo entre diferentes vozes e temporalidades.
NA/JMV
Inforpress/Fim
Partilhar