Mindelo, 22 Mai (Inforpress) – As especialistas portuguesas em Neuropediatria e Fisioterapia estimam que Cabo Verde tenha neste momento cerca de mil crianças com doenças neuropediatras, que precisam de mais recursos humanos, meios de diagnóstico e reabilitação para os devidos cuidados.
Uma questão levantada hoje à imprensa, no Mindelo, pela fisioterapeuta do Centro Materno Infantil do Norte, Porto (Portugal), que integra a equipa da 18ª missão em Neuropediatria no Hospital Baptista de Sousa (HBS), em São Vicente, resultante de cooperação entre Cabo Verde e Portugal.
Mónica Duarte, que se desloca ao arquipélago pela nona vez, desde 2016, disse que a sua equipa já observou quase 300 crianças cabo-verdianas com doenças neuromotoras, e cuja principal característica é o impacto e a dificuldade motora na locomoção.
“E estas 300 são uma amostra bastante importante porque, segundo o censo de 2020 e partindo do princípio da prevalência das principais doenças neuromotoras no mundo, consta que deve haver cerca de mil crianças com doenças neuromotoras no arquipélago de Cabo Verde”, elucidou a mesma fonte.
A fisioterapeuta, que dirigiu hoje, no HBS, uma sessão clínica sob o tema “Crianças com doenças neuromotoras em Cabo Verde - Realidade e desafios para a Fisioterapia”, admitiu ter conhecimento da caracterização epidemiológica destas crianças, mas alertou para aquelas sem cadastro no sistema de saúde.
“Há sempre aquelas que nós nunca saberemos quem são. As que vivem longe, as que nem estão identificadas e esse será sempre um problema a tentarmos ultrapassar”, lançou Mónica Duarte, para quem este “revés” só pode ser ultrapassado com a descentralização.
Ou seja, acrescentou, é preciso, para além do atendimento nos centros de saúde e nos hospitais, ter pessoas no terreno para verem onde estão estas crianças.
Um objectivo que, segundo a mesma fonte, pode ser alcançado com o número crescente de fisioterapeutas no país, mas que, lamentou, não é proporcional ao número de fisioterapeutas no serviço público.
Quem também chama atenção para a necessidade de mais recursos é a coordenadora da missão portuguesa, a neuropediatra Ana Isabel Dias.
Apesar de ter registado uma “boa evolução” desde o início das missões, em 2011, Ana Isabel Dias disse faltar ainda especialistas dentro do sistema público para o atendimento e ainda défice de acesso a exames de diagnósticos como a Tomografia Axial Computorizada (TAC), ressonância magnética e outros meios complementares de diagnóstico, nomeadamente, a eletroencefalografia.
“Está a melhorar, mas precisamos de mais neuropediatras e mais técnicos de reabilitação. A reabilitação é muito importante porque normalmente os doentes neurológicos são deficientes”, sustentou a neuropediatra, para quem o mais importante é reabilitar os pacientes e os inserir na sociedade.
LN/JMV
Inforpress/Fim
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