Sal Rei, 26 Abr (Inforpress) – A escritora e activista Miriam Medina alertou hoje para a “preocupante situação” da violência sexual infantil e prostituição na ilha, principalmente nas redes hoteleiras, apelando a acção da sociedade.
O alerta foi feito durante uma conversa aberta com os estudantes da Escola Secundária da Boa Vista, no âmbito da Semana de Literatura promovida pela Câmara Municipal, na qual a também socióloga tem estado a conversar com alunos sobre o tema da violência sexual, em diferentes povoados da ilha.
“A situação da Boa Vista me tem com o coração pequeno. Com uma semana na ilha, realmente estou bastante preocupada, já dei palestras para meninos do ensino básico e secundário, e ouvi vários relatos de sofrimento que eles têm vindo a trazer, várias feridas emocionais que estão a trazer de dentro de casa para a escola”, afirmou Miriam Medina.
A activista apontou situações de crianças com 10 anos de idade a fazer perguntas na terceira pessoa, mas a escritora sublinha que pela experiência, percebe que as crianças estão a falar de si mesmas.
“Dizer hipoteticamente, imaginem que uma menina foi violada pelo padrasto, ela contou a sua mãe e a mãe não acreditou, nesse caso, o que a menina deve fazer?”, relatou activista.
Miriam Medina afirma que a idade das crianças que estão a passar por essas situações torna tudo mais preocupante, referindo-se também a sobrecarga dos professores que têm de lidar com essas situações.
“Eu tenho falado com vários professores, da necessidade que eles têm de ter um psicólogo, mas para fazer apenas atendimento para os meninos, não para ser psicólogos e para dar aulas… eles é que acabam, de certa forma, por lidar com todas as feridas emocionais, com todos os problemas de várias ordens que os meninos trazem de casa para dentro da escola”, afirmou.
Miriam Medina apontou outro aspecto grave da ilha, não só de menores, mas também de mulheres adultas violadas quando crianças, que é, diz, o silenciamento das vítimas dentro das próprias famílias, muitas vezes em prol de uma falsa proteção da imagem familiar, já que este silêncio perpetua o ciclo de violência e impede que as vítimas recebam o apoio necessário.
“Actualmente posso dizer de forma convicta: não estamos com família, a família cabo-verdiana está completamente desestruturada, e todos estes problemas estão a surgir exactamente dentro da família”, afirmou.
Apesar da situação actual, a activista reconheceu o interesse da Câmara Municipal da Boa Vista, ao agendar para esta terça-feira um encontro multidisciplinar com a participação de diversas entidades, incluindo o ICCA, com o objetivo de discutir e encontrar soluções para combater a violência sexual na ilha.
A escritora, que vai concluir, na terça-feira, no Rabil e na Escola Nova, as suas palestras na ilha, enfatizou a necessidade de um trabalho "de raiz" que comece no seio familiar e envolva toda a comunidade para erradicar a violência sexual e proteger as crianças de Boa Vista e de Cabo Verde.
MGL/JMV
Inforpress/Fim
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