Agricultura irrigada em Cabo Verde enfrenta desafio da escassez de água e da monocultura da cana-de-açúcar

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Agricultura irrigada em Cabo Verde enfrenta desafio da escassez de água e da monocultura da cana-de-açúcar
08/08/25 - 02:57 pm

Cidade da Praia, 08 Ago (Inforpress) – O investigador Erik Sequeira alertou hoje que a agricultura irrigada em Cabo Verde enfrenta um desafio devido à escassez de água, defendendo uma melhor gestão hídrica e diversificação das culturas para garantir a sustentabilidade.

Estas declarações foram feitas à Inforpress, pelo o investigador Erik Sequeira que fez um diagnóstico detalhado sobre a relação entre a agricultura e os recursos hídricos no país, destacando a necessidade urgente de melhorar a gestão da água e diversificar as culturas para garantir a sustentabilidade.

Para o investigador Erik Sequeira este estudo serviu também para calcular um conjunto de índices que permitem analisar a relação entre a agricultura e a escassez de água.

A escassez de água é apontada como um dos grandes desafios para a agricultura no país, que depende, fortemente, da irrigação. 

Erik Sequeira sublinhou que “tem havido vários investimentos em termos de mobilização de água e também na utilização de fontes alternativas, nomeadamente, as águas residuais tratadas para a agricultura, além da gestão da água”.

Contudo, a forma empírica como é feita a rega limita a eficiência dos recursos hídricos.

“A rega é feita de forma empírica, ou seja, não se baseia num calendário rigoroso que considere as necessidades reais das culturas, para definir a quantidade e frequência da água aplicada”, explicou Erik Sequeira.

Outro ponto crítico identificado é o aumento significativo da área irrigada com cana-de-açúcar, cultura que exige grande quantidade de água.

O investigador alerta para as implicações deste fenómeno, já que durante a análise dos dados pôde verificar um aumento significativo da cultura da cana-de-açúcar que, do ponto de vista da gestão da água, esta cultura é muito relevante devido à sua elevada exigência hídrica, sendo mais exigente do que as culturas hortícolas.

Segundo a mesma fonte, do ponto de vista da segurança alimentar, levanta questões porque não é uma cultura alimentar e ocupa espaço que poderia ser usado para culturas alimentares.

Porém, o investigador justifica esse aumento da cultura da cana-de-açúcar por razões económicas.

“O grogue é um produto de grande valor e os agricultores conseguem obter uma receita significativa. Além disso, a cultura da cana-de-açúcar é menos exigente do que outras culturas” disse o investigador.

Para mitigar os riscos da monocultura, o estudo propõe que se criem “políticas que incentivem a produção de culturas alimentares, e apoiar os agricultores para que apostem nessas culturas".

Sobre a cana-de-açúcar, o investigador deixa claro que “o objectivo não é criticar nem eliminar a sua produção, mas alertar para a sustentabilidade e a produção alimentar”.

No que toca aos sistemas de irrigação, Cabo Verde utiliza principalmente o sistema tradicional e o sistema gota-a-gota, cuja eficiência, explica o professor, pode variar apesar do seu potencial.

“Digo ‘teoricamente’ porque, muitas vezes, é necessário garantir várias condições para atingir o potencial de eficiência, como a manutenção e gestão do sistema. Ainda assim, o estudo alerta para as dificuldades financeiras e técnicas que atrasam a manutenção e o correcto dimensionamento das infra-estruturas.

Perante o desafio das alterações climáticas, o estudo sugere integrar a gestão da água e a escolha de culturas adaptadas ao “stress” hídrico.

Sobre as culturas mais eficientes no uso da água, o investigador destaca que os dados indicam que as hortícolas têm maior produtividade hídrica, por isso merecem a aposta.

Para o futuro, o professor Erik Sequeira aponta a investigação científica e a capacitação como essenciais para garantir uma agricultura mais sustentável e resiliente no arquipélago.

JBR/HF

Inforpress/Fim

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